domingo, 1 de março de 2015

O simples coronel Madureira


Domingo... O seu jornal predileto continuava, aberta ou indiretamente, metendo o malho na situação - o preço dos transportes ameaçavam vertical subida, o preço dos gêneros de primeira necessidade não se estabilizavam ao menos, a carne desaparecia dos açougues, o pão das padarias e os remédios das farmácias, organizações estudantis eram fechadas e universidades interditadas, presos políticos eram seviciados, numerosos asilados permaneciam em embaixadas com dificuldades nos passaportes e nos inquéritos instalados cometiam-se os mais criminosos abusos.

O fato é que Madureira, que adorava tomar seu chimarrão todas as manhãs antes de cuidar de seu jardim e de passear com a mulher, recebera o convite do Alto Comando Revolucionário do Exército, para ocupar um cargo importante no Serviço Geral de Abastecimento de Lubrificantes. Com isso, Marques Rebelo nos revela uma deliciosa novela curta de 126 páginas que lemos com prazer. O que mais queria o coronel Madureira, que se aposentara do exército com uma vida boa, mas simples, era gozar a vida. Mas seu trabalho burocrático no tal órgão do exército expõe a ele um trabalho monótono, uma burocracia recheada de cargos nomeados por interesse, até que um dia ele recebe um ofício do Alto Comando, instruindo-o a denunciar todos os funcionários que manifestassem opiniões contrárias ao regime de governo imposto pelos militares.

Não deixa de causar surpresa o fato de O simples coronel Madureira ter sido publicado sem sofrer censura. A obra foi lançada em 1967, quando Costa e Silva assumira o governo, sucedendo Castelo Branco, a poucos dias do Ato Institucional, que restringiu os direitos civis e promoveu o golpe dentro do golpe.
               
                                       paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Marques Rebelo. O simples coronel Madureira. Rio, José Olympio, 2013, 126 pp R$ 24,00

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