domingo, 9 de outubro de 2011

A escritora

Numa noite dessas um programa de tevê local entrevistou uma escritora famosa no mundo das letras. Dizia à entrevistadora que prezava muito a possibilidade do amor na terceira idade. Que as pessoas mais velhas, muitas vezes sozinhas depois de um longo amor em que construíram seu lar com filhos e uma casa acolhedora, tinham o direito de olhar para o lado. Que é possível a todos, sem nenhuma exceção, ser felizes novamente.
A escritora continuou a discorrer sobre seus pontos de vista em relação à vida e à vida em sua escritura, sempre olhando para a câmera, embora estivesse frente a frente com a entrevistadora. Eu não via a hora em que a entrevistadora, incomodada, pedisse que se dirigisse a ela e não à câmera para a conversa transcorrer em clima de certa intimidade disfarçada. Mas a escritora continuava olhando para a câmera, talvez para passar uma imagem mais verdadeira no batepapo.
O que a escritora achava das atrizes mais velhas esticarem o rosto: ridículo! As pessoas deveriam envelhecer valorizando o sinal dos tempos, já que o envelhecimento tem sua cota de beleza. Mas a senhora já fez plástica... Sim, minha filha, mas... pouca coisa! Alguns retoques para tirar as papas, nada que alterasse meu semblante. Não sei por que essa gente teima em ser outra pessoa...
A senhora valoriza o amor na terceira idade. Está amando um homem mais novo que a senhora? De fato, mas pouca coisa, também. Nem aparecem as discrepâncias. Essa história de que relacionamentos em que o “pai” procura a “filha” e a “mãe” procura o “filho”, isso é história de Nélson Rodrigues. Mas os médicos falam em testosteronas... Conversa pra boi dormir, minha filha. O amor maduro não é só sexo, écompartilhamento, é amizade. Amor maduro é amor de amigo, também.
Pois é, e o que a senhora pensa das críticas que vem recebendo, de que sua literatura é de auto-ajuda? Coisa de patrulhamento da esquerda festiva que vem infestando o país... Não dou bola pra crítica, nunca dei, não preciso dela para vender meus livros. Meu público é fiel e sabe o valor de minha obra...
Essa escritora passou a vender muito, desde que mudou seu rumo na escrita. Agora ela diz que escreve ensaios, na verdade um estilo de crônica meio longa, em que traça parâmetros de vida e opina daqui, opina dali. Parei de ler a escritora, depois de ler dois livros seus nessa linha. Essa coisa de comentar um fato e emitir um ponto de vista como verdade terapêutica me cheira sem graça.

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