domingo, 15 de janeiro de 2012

Federico García Lorca

Em 1936, no início da guerra civil, a Espanha perdia um de seus maiores poetas, já convertido numa das primeiras vítimas da violência franquista brutal que iria se abater sobre o país. Morto aos 38 anos, quando estava pleno de vida e de projetos literários, García Lorca transformou-se em lenda. Em Federico García Lorca, uma biografia, de Ian Gibson, um dos mais completos biógrafos de Lorca, alguns mitos são quebrados e sua rica personalidade se ilumina e se ressalta.
Segundo o biógrafo, Lorca nasceu de uma família importante da aristocracia rural do interior de Granada, cercado de amor e carinho pelos pais, que sempre o incentivaram a seguir seu desejo de ser poeta, sustentando-o financeiramente até a idade adulta. A sensibilidade de Lorca se desenvolveu na poesia, dramaturgia e na música, pois era um pianista competente e um cantor razoável, que buscava sempre enaltecer a musicalidade do meio rural, trazendo à luz a musicalidade advinda da cultura oral de sua região.
García Lorca tinha uma personalidade sedutora, cativante e encantadora. De gênio extrovertido, sempre alegrava a seus pares, tocando sua música e declamando seus versos. Quem se aproximava dele ficava-lhe amigo para sempre. Foi contemporâneo de Dámaso Alonso, Salvador Dalí, Luís Buñuel, Miguel de Unamuno, Jorge Guillén e Rafael Albertí, entre outros. Todos esses tiveram contato direto com Lorca. A relação que mais lhe marcou, certamente, foi a com Salvador Dalí, pois foram amigos íntimos, com fortes rumores de terem sido amantes, pois García Lorca era homossexual não assumido.
Quando a veia de dramaturgo se manifestou de maneira irreversível em sua criação artística, sentiu necessidade de desenvolver um projeto, envolvendo a criação de um teatro universitário itinerante, para representar obras clássicas de Cervantes, Lope de Veja e Calderón de La Barca nas aldeias e vilas da zona rural da Espanha, tão privadas de vida cultural. Esse grupo, ficou conhecido a partir de então de A Barraca, sob o comando de Lorca. Durante o período republicano que antecedeu ao franquista, o grupo recebia incentivo financeiro do governo. Os direitistas logo passaram a questionar aquele empreendimento subsidiado pelo Estado, que consideravam pouco mais que um pretexto para a disseminação da propaganda marxista. Católico fervoroso, García Lorca sempre defendeu os pobres e injustiçados, mas nunca se considerou um marxista nem participou do partido comunista espanhol, onde alguns intelectuais amigos seus participavam. Mesmo assim, quando de sua prisão, esses acontecimentos foram propagandeados pelos fascistas para prender e assassinar García Lorca.
O fato de Lorca ter-se pronunciado publicamente contra o regime opressor protofascista e denunciar as injustiças sociais, além do ataque ao grupo teatral, talvez tivessem sido motivo para sua prisão e assassinato 1936. Lorca fora avisado por amigos para que não saísse de Madri, o que ele não fez, preferindo voltar a Granada para junto dos pais, em Granada. Margarita Xirgú, famosa atriz espanhola que representou algumas peças de Lorca com sucesso o incentivou a partir com ela para o México em turnê. Lorca relutou. Quando já estaria com a passagem de navio no bolso para partir, foi quando rebentou a guerra civil e ele feito prisioneiro. Muitos amigos e intelectuais importantes de Espanha (inclusive quem tinha alinhamento à direita política) intervieram a seu favor, em vão. Lorca foi fuzilado com outros presos num local deserto e enterrado em vala comum ali mesmo.
Quanto à dramaturgia de Lorca, tinham suas raízes na paisagem e no lugar de sua infância. A musicalidade de suas peças tinha a forte presença do cante jondo, centrado na cultura andaluza de cunho popular. Suas obras principais: Dona Rosita, a solteira, Bodas de Sangue (o maior sucesso de Lorca dentro e fora da Espanha), Yerma e A Casa de Bernarda Alba, entre outras. Em sua poesia destacam-se o Romancero Gitano e Ode a Walt Whitman.
Federico García Lorca, uma biografia, é de leitura fácil e agradável. Há certa obsessividade do biógrafo em buscar provas (não comprovadas) da sexualidade de Lorca e sua vida amorosa. Não há nenhuma carta, nenhum depoimento de amigos, que se refira ao desejo sexual escondido do poeta, embora sua homossexualidade fosse percebida e comentada no meio social de Lorca. Salvador Dalí, que tivera um relacionamento íntimo de amizade com Lorca, nunca se referiu ao provável romance dele com o poeta.
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Ian Gibson. Federico García Lorca, uma biografia. SP, Globo, 1989, 604 pp

A obra em questão está esgotada, mas pode ser adquirida em sebos da estante virtual: http://www.estantevirtual.com.br/

Um comentário:

  1. Oi, Paulinho, gostei de recordar em teu texto dados da vida de Lorca. Por exemplo, não lembrava quão curta em anos foi sua vida. São tão extraordinárias essas pessoas de talento que se vão cedo e, no entanto, ficam para sempre na história. São como estrelas cadentes, tão belas e fugazes. Beijo.

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