domingo, 8 de abril de 2012

Cláudio Manuel da Costa

Se você gosta de ler biografias, é bastante provável que vá gostar de Cláudio Manuel da Costa, da historiadora Laura de Mello e Souza, escrito em linguagem simples, sem o ranço acadêmico dos historicistas. A autora pesquisou exaustivamente em arquivos brasileiros e portugueses, para elucidar dados obscuros da vida do poeta, revelando um homem dividido profundamente entre o reino português e sua colônia ultramarina, entre a liberdade e os valores do Antigo Regime, entre os ideais do neoclassicismo e os conflitos maneiristas. Os escritores neoclássicos, quase todos, estavam preocupados em construir uma literatura como prova de que os brasileiros eram tão capazes quanto os europeus. Para Antonio Candido, pai da historiadora, os escritores do período neoclássicos, do qual pertence Cláudio Manuel da Costa, iniciaram a literatura brasileira. A tese de Cândido, da literatura como sistema, aponta que, durante o neoclassicismo, o escritor estava amadurecido com seu oficio de escrever para um público que lesse sua obra. O público leitor começa a se delinear, no Brasil, a partir da formação dos núcleos urbanos, pouco antes da vinda da Família Real, solidificando-se depois disso, com a criação de mais escolas e bibliotecas. Mesmo os que viveram mais no Reino do que na Colônia, faziam questão de se considerarem brasileiros. Incentivado a estudar em Lisboa, Cláudio Manuel da Costa bem que gostaria de ter permanecido mais tempo por lá, mas a morte do pai o obrigou a retornar às Minas Gerais para gerir os negócios da família. Dos poetas mineiros, talvez seja o mais profundamente preso às emoções e valores da terra, embora o formalismo estilístico do período a que pertenceu pudesse sugerir uma afetação portuguesa em sua poesia. Cláudio Manuel da Costa foi membro destacado da elite colonial. Foi proprietário de terras e de escravos. Permaneceu solteiro a vida toda, embora tivesse um relacionamento por toda sua vida com uma escrava. Tratou de alforriá-la, assim que nasceu seu primeiro filho. Durante a Inconfidência, vacilou diante dos interrogatórios e entregou a todos os correligionários que tramavam contra o regime português. Por causa disso, talvez, tenha cometido o suicídio na prisão, fato que permanece nebuloso até os dias de hoje: suicídio ou assassinato?
Laura de Mello e Souza (1953) é filha do crítico literário Antônio Cândido e da filósofa Gilda de Mello e Souza. Entre suas obras destacam-se O diabo e a terra de Santa Cruz, sobre a feitiçaria no período colonial, e Inferno Atlântico, uma análise interessante sobre o choque que as duas culturas (portugueses e indígenas) sofreram, a partir do descobrimento do Brasil.
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Laura de Mello e Souza. Cláudio Manuel da Costa. SP, Cia. Das Letras, 2011, 248pp R$ 39,50

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