domingo, 15 de abril de 2012

Batismo de fogo

A cidade e os cachorros é mais um romance com traços autobiográficos de Vargas Llosa, publicado em 1963. Ao completar 14 anos, o escritor ingressara, por vontade paterna, no Colégio Militar Leôncio Prado, como aluno interno, ali permanecendo por dois anos. Essa experiência será o tema de La ciudad y los perros, publicado no Brasil como Batismo de Fogo e, posteriormente, como A cidade e os cachorros. A maior parte da ação ocorre dentro do colégio. Alguns alunos mais antigos formam um grupo, O Círculo, com o objetivo de introduzir secretamente cigarros, bebidas alcoólicas e outras coisas não permitidas pela escola militar. Esse grupo é poderoso no controle do que acontece dentro da instituição. Os novos alunos, quando chegam, recebem “o batismo” e abusados com brutalidade. São chamados de cães e submetidos a agir como cães, durante as brincadeiras. Costumam subjugar e tirar tudo dos mais fracos. Uma de suas vítimas é Ricardo Arana, o Escravo. Outro aluno, alter ego do escritor, é chamado de Poeta, por escrever cartas de amor eróticas para as namoradas dos demais colegas. Seu comportamento e dignidade moral salvam-no muitas vezes de ser humilhado.
Durante o exame de química, o tenente Gamboa descobre que as respostas da prova haviam sido roubadas e exige que delatem o responsável pelo roubo. Confina alguns estudantes para obrigá-los a falar. O aluno Cava é denunciado. Jaguar, o líder autoritário do Círculo, jura descobrir o delator e as suspeitas recaem sobre o Escravo, o bode expiatório do grupo. Numa das manobras dos alunos, sob o comando do tenente Gamboa, o Escravo é assassinado. O Poeta acaba acusando Jaguar como o mandante do crime.
O livro é uma denúncia da brutalidade e da falsa virilidade que se pretende incutir na juventude, sob o pretexto de forjar heróis. Entretanto, isso acaba resultando no extermínio de qualquer resquício de sensibilidade. Conforme diz Kean, na peça teatral homônima de Jean Paul Sartre, “representamos o papel de herói, porque somos covardes; o de santo, porque somos maus. E o de assassino, porque sempre existe alguém que gostaríamos de matar. Representamos, em suma, porque desde o momento em que se nasce não se faz outra coisa senão mentir.”

============
A cidade e os cachorros. Alfaguara Brasil, 2007, 373 pp, R$ 60,00
La ciudad y los perros. Punto de Lectura, 2008, 446 pp, R$ 68,40
Existe uma edição esgotada em português, pela Ed. Nova Fronteira, sob o título de Batismo de Fogo, com tradução de Milton Persson, que pode ser encontrada em sebos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário