domingo, 17 de junho de 2012

A condição humana

A revolução russa de 1917 influenciou a criação do partido comunista chinês, que tinha entre seus líderes o ativista político Mao Tse-tung. O PCC começou a organizar massas de trabalhadores. Em 1927, organizou uma rebelião que tomou a cidade de Xangai. O objetivo da rebelião era tirar do poder o regime corrupto que até o momento dominava a China. Chiang Kai-Shek, militar e político, contou com o apoio dos comunistas para unificar a China. Após a tomada de Xangai, entretanto, tratou de eliminá-los. Grosso modo, esse é o mote histórico que serve de base à trama de A condição humana, de André Malraux, considerado o precursor do romance moderno. Aproveitando a realidade de uma guerra como cenário de sua história, o autor conseguiu exprimir a consciência ao mesmo tempo social e pessoal de toda uma época. Entretanto, a novela não tem conotações históricas e nem é panfleto de exaltação do partido comunista chinês. Trata-se de uma trama muito bem amarrada, com cenas rápidas e dinâmicas, mostrando personagens verossímeis agindo diante de uma situação de conflito. Há críticos que comparam a novela como um quase script cinematográfico, tal a objetividade com que o autor estrutura a história. Baseado em fatos reais, Malraux cria personagens cuja consciência no momento dos conflitos revolucionários, atuam enquanto a ação se desenrola. O essencial é o confronto trágico da vontade humana com as forças políticas. As duas primeiras partes estão localizados em Xangai, 21-23 de março de 1927. O romance começa abruptamente com um assassinato. Em seguida, aparece o clima de violência que permeia o livro e também a solidão do assassino que, desde o primeiro crime, vai se tornar um terrorista. Na terceira parte, vemos uma discussão política em que existem diferentes concepções da revolução. Os revolucionário tramam o assassinato de Chiang Kai-Shek, mas o plano é abortado. A cena dessa ação é descrita de forma a tirar o fôlego do leitor. Começa a perseguição implacável aos comunistas revolucionários. Muitos “terroristas” são presos, alguns se suicidam na prisão. O romance termina com um final cínico. Um francês que havia organizado a resistência contra os revolucionários, negocia em Paris com os representantes dos grandes bancos a exploração de uma China ainda capitalista. Quanto os revolucionários sobreviventes, fazem uma reflexão dos sobreviventes sobre a fidelidade à inssurreição de 1927 e a continuidade da luta.
André Malraux (1901-1976) participou ativamente de todas as batalhas ideológicas do século XX, desde o nacionalismo chinês até a guerra civil espanhola. Foi militante do partido comunista francês. Isso não o impediu de criticar severamente a postura de Stálin na União Soviética. Durante os acontecimentos de maio de 1968 foi solidário a De Gaule, causando a ira da esquerda intelectual da época.
A condição humana foi publicado em 1933, recebendo o Prêmio Goncourt. Há outra obra do autor traduzida em português, A Esperança, tendo como pano de fundo a guerra civil espanhola.
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André Malraux. A condição humana. Rio, Bestbolso, 2009 350 pp R$ 18,00

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