domingo, 3 de junho de 2012

O caso da Chácara Chão

Você lembra a polêmica com o Prêmio Jabuti de Literatura do ano passado? O romance de Edney Silvestre, Se eu fechar meus olhos agora, ganhou o prêmio como melhor romance. Chico Buarque, com Leite Derramado ficou em segundo e Luís Fernando Veríssimo em terceiro, com Os espiões. A Câmara Brasileira do Livro, que organiza o prêmio, escolhia, ainda, entre todos os selecionados de todas as categoria (conto, poesia, romance, reportagem), o Livro do Ano. E aconteceu que o Leite Derramado, do Chico, ganhou, deixando Edney Silvestre e a editora Record, que lançou a obra, descontentes. Para eles, quem deveria ganhar seria Se eu fechar os olhos agora, que havia ficado na frente. Agora houve mudança nas regras, só o primeiro colocado de cada categoria concorre ao Livro do Ano. Aproveitando-se do imbróglio, Domingos Pellegrini Jr. escreveu uma carta aberta no jornal de literatura O rascunho, endereçada a Milton Hatoum, escritor manauara, reclamando do que vem acontecendo com seu livro O caso da Chácara Chão (da Ed. Record, a mesma do Se eu fechar meus olhos agora), vencedor do Prêmio Jabuti de 2001. O livro de Hatoum, Dois Irmãos, da Cia. das Letras (a mesma do livro do Chico Buarque) havia ficado em segundo lugar. Mas, Dois Irmãos ganhou repercussão maior que o vencedor do Jabuti, sendo confundido como o vencedor do prêmio. A CBL contribuiu para essa confusão, ao publicar, no seu site, não a relação dos vencedores por ordem de premiação, mas as relações dos três títulos finalistas em ordem alfabética, como faz na divulgação no período entre a revelação dos finalistas e a premiação. Talvez também tenha contribuído o fato de a Companhia das Letras, já em 2001, ter colocado tarja sobrecapando o livro, com a informação promocional “Vencedor do Prêmio Jabuti”. Resumo da história: foi uma briga política entre duas grandes editoras do mercado brasileiro. Eu havia lido Dois Irmãos e gostei muito. Não havia lido o livro de Pellegrini. Decidi comprá-lo e ler. De início, me incomodou o estilo infanto-juvenil. Os diálogos soavam artificiais. O autor é um dos expoentes da literatura para jovens, possui vários prêmios nessa categoria. Quando me dei conta, entretanto, estava envolvido na história e li o romance quase sem parar. A trama se sustenta em forma de suspense, prendendo a atenção até o final. O livro de Pellegrini tem uma trama policial. É também um painel social, onde as pessoas se debatem entre o crime e a decência, o isolamento e a comunidade, a covardia e a cidadania. O personagem central da história é um escritor de literatura juvenil que vive com a mulher, a filha pequena e o enteado adolescente em uma chácara nas imediações de Londrina. Uma noite, a família é assaltada por dois elementos, um branco de origem rica e um mulato de origem humilde, licenciado da PM por uso de drogas. Na briga, o escritor fere com facão o ladrão da PM. A dupla foge, roubando joias e dólares. A polícia é chamada, os bandidos presos, mas o escritor e sua mulher são vítimas de uma armadilha. As coisas fervem, a polícia e a opinião pública ficam do lado dos bandidos, os advogados sugerem a retirada da queixa e a busca para salvar a dignidade do casal segue adiante por outros meios. Paralelamente, próximo à chácara, constroem um enorme galpão para promover festas e shows, com o som a todo o volume. A comunidade local se mobiliza para coibir o estabelecimento de funcionar, inicialmente sem sucesso. No final do livro, as coisas se resolvem. O assaltante pobre é desmascarado e condenado e o assaltante rico consegue sair do país impune. Domingos Pellegrini Jr. baseou-se em fatos reais acontecidos com ele mesmo, quando foi assaltado em sua chácara, em situações semelhantes às do livro. Longe de ser um livro-cabeça, sua leitura prazerosa empolga.
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Domingos Pellegrini Jr. O caso da Chácara Chão. 5ª ed., Rio, Ed. Record, 2007, 340 pp. R$ 39,90

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