domingo, 22 de julho de 2012

Patti & Mapplethorpe, Só Garotos

Patti Smith lançou recentemente seu disco de estúdio, Banga. Tem a sonoridade menos agressiva que seus discos anteriores. Para compensar, apresenta letras densas (Patti sempre foi poeta), algumas canções são poemas que a cantora diz enquanto a melodia toca. Nele tem This is the girl, homenageando Amy Winehouse; tem também Constantine’s Dream, poema longo de mais de seis minutos, onde a intérprete, ao acordar de um sonho apocalíptico, vai à igreja rezar e encontra lá a pintura que seu amor há tanto procurava. Todas as músicas são bacanas. Patti Smith fez parte do movimento punk, que efervesceu a partir da década de 70 do século passado. Cultuada como poetisa do rock, faz parte de um time seleto de roqueiros que incluem Bruce Springsteen e Bob Dylan, de quem já era fã antes de começar sua carreira como cantora. Se você não lembra dela, pode ter visto e ouvido a música que ela fez com Bruce Spreengsten e rola no You Tube, os dois junto com Bono, do U2: Because the night.
Banga serve de mote para comentar o livro que ela havia prometido escrever a seu grande amigo, o artista plástico e fotógrafo Robert Michael Mapplethorpe, pouco antes da morte dele, em 1989, para contar a história dos dois, em Só garotos. Ela e Robert nasceram em 1946, foram para Nova Iorque no mesmo ano – ela para ser poeta, ele para ganhar expressão como artista plástico. Os dois se conheceram em uma livraria onde ela trabalhava. Em dois toques tornaram-se amantes. A coisa não continuou, porque Robert era homossexual e decidiu seguir sua tendência. Tornaram-se amigos por toda a vida. Patti, muitas vezes, assumiu o papel de irmã mais velha do fotógrafo em suas crises existenciais. Robert, desde cedo, envolveu-se com LSD. Sujeito irreverente, teve o incentivo de Andy Wahrol para desenvolver sua fotografia como arte. Robert era bastante conhecido por suas fotos retratando o sadomasoquismo guei. Patti, por sua vez, era apaixonada por poesia. Rimbaud era dos seus autores favoritos. Tinha intenções de publicar um livro de poemas. Como já cantava e tocava, Robert a incentivou a enveredar pela música. Seu primeiro álbum, Horses, teve design gráfico e fotos dele. Enquanto viveram juntos, foram morar no Hotel Chelsea, que na época tinha residentes ilustres. Antes deles, Bob Dylan e Janis Joplin, por exemplo, haviam morado lá. Enquanto viveram no Chelsea, tiveram contato íntimo com a nata da intelectualidade cultural da época, seja na música, na literatura e nas artes plásticas. William Burroughs, escritor, foi outro que teve grande influência na vida dos dois. Separados, saíram do Chelsea. Patti partiu para sua carreira musical e Robert descobriu os prazeres da fotografia. A década de 80, efervescente em novas tendências artísticas, infelizmente trouxe o estigma da AIDS. Robert foi uma de suas vítimas, morrendo em consequência disso. Patti ficou próxima a ele até sua morte.
Só garotos é importantíssimo para retratar uma das épocas mais importantes do movimento pós-moderno, que já havia lançado raízes nas décadas passadas. As marcas do homem contemporâneo, individualista, autodestrutivo, enraizado na sociedade de consumo, evidenciando novos comportamentos sociais, têm suas marcas na rica história das mudanças de comportamento social que o livro de Patti Smith faz refletir na história de vida dela e na história de vida de Robert Mapplethorpe. Leia!
Se você é fã de Patti Smith e quer comprar seu disco, gaste um pouquinho mais e compre o disco importado, quem contém as letras e um diário. Se optar pela edicção nacional, terá de buscar as letras na internet.
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Patti Smith. Só garotos. SP,Cia. das Letras, 2010, 220 pp. R$ 39,00

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