domingo, 9 de setembro de 2012

Bel-ami

Guy de Maupassant (1850/1893) foi um escritor e poeta francês. Teve vida boêmia, contraiu sífilis e acabou internado como louco num manicômio, onde veio a falecer. Foi amigo de Gustave Flaubert (Madame Bovary), que o incentivou a escrever. Sua produção de peso foi a narrativa curta, mas enveredou também pelo caminho do romance. Bel-ami é um desses.
Em Bel-ami, George Duroy é um jovem belo, charmoso e fogoso. Bigodes e olhos azuis. De origem humilde, vive na Paris da belle époque do final do século XIX. Nesse período, a França lançava sua rede na África para conquistar colônias. Duroy é pobre, ganha um salário miserável para suas pretensões, mas graças a um amigo que havia lutado com ele na Argélia, consegue um emprego em um jornal. Como era medíocre na escrita, obtém ajuda da mulher desse amigo, para se firmar como jornalista. A partir de então, pensa em conquistar um lugar na aristocracia parisiense. Incentivado por essa mulher, é introduzido na sociedade aristocrática e passa a seduzir mulheres casadas. Desde então, planeja ludibriá-las astuciosamente para conseguir fama e reconhecimento, desrespeitando qualquer forma de sentimento. Maupassant conduz, assim, seu personagem, por uma trilha de blefes, chantagens, encontros amorosos às escondidas. Enquanto Duroy vai desvendando, com a ajuda de suas amantes, as trapaças do jornalismo e as ligações que seu novo ofício estabelecia com as altas esferas de poder, o leitor assiste à pintura impiedosa de uma outra Paris, oculta sob o glamour dos salões, onde o tráfico de influências impera e envolve imprensa, política e poder financeiro.
O filme Bel-ami, passado recentemente nos cinema, foi baseado no romance homônimo de Maupassant, mas com uma leitura equivocada do personagem Duroy. No filme, nosso anti-herói é um personagem romântico inseguro e com complexo de inferioridade, por ser pobre (e não tem bigote e tem o nariz torto). Sendo assim, busca vingar-se dos poderosos, seduzindo-lhes as esposas para galgar fama e dinheiro. O ambiente faustoso da belle époque do livro desaparece no filme, bastante pobre, aliás, em cenários, figurinos e tomadas externas. Acontece que Bel-ami é um romance realista e na trama escrita Duroy é um personagem de uma ignóbil ingenuidade, tão cretino quanto os demais. Um dândi inconsequente. Maupassant teve influência de Schopenhauer, filósofo alemão que viveu a mesma época de Maupassant. A visão de Schopenhauer sobre o amor é de que este pode ser meta de vida, mas não de felicidade. Daí o pessimismo nas relações humanas. O foco da vontade de Duroy é o impulso sexual. A encarnação do erotismo que enleia sobretudo mulheres e não conhece escrúpulos. Bel-ami não se trata de uma obra prima, mas sua história, ainda que superficial, é bem tramada e prazerosa de ler.

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Guy de Maupassant. Bel-Ami. SP, Estação Liberdade, 2010, 368 pp. R$ 51,00

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