domingo, 21 de outubro de 2012

Fantasma sai de cena

Nathan Zuckermann, fantasma do escritor Philip Roth (1933) reaparece mais uma vez em Fantasma sai de cena. O narrador judeu, que já protagonizara O escritor fantasma e Pastoral Americana (já comentado neste blog recentemente), além de outros romances, sai de seu isolamento, nas montanhas, para Nova Iorque, que não visitava há quase quinze anos, para tentar resolver seu problema de incontinência urinária, decorrente de um câncer que o fizera retirar a próstata. A época da ida de Zuckermann gira em torno do atentado de 11 de setembro de 2011. Uma noite, ao retornar ao hotel, lendo o jornal ele avista o anúncio de um casal de escritores que lhe interessa: o casal procura um sítio nas montanhas em local isolado, em troca do apartamento deles em Nova Iorque, por um ano. Zuckermann andava um tanto abalado pela previsão de uma intervenção cirúrgica para tentar conter a incontinência urinária, outro tanto enfastiado da solidão a que se submetera, já que morava sozinho havia onze anos numa casinha que ficava numa estrada de terra numa região bem rural, tendo tomado a decisão de levar uma vida isolada cerca de dois anos antes de lhe ter surgido o câncer. Tinha pouco contato com pessoas, não ia a jantares nem a cinema, não via televisão, escrevia durante a maior parte do dia e com frequência à noite. Lia, principalmente, os primeiros livros que descobrira quando era estudante. Aquele anúncio subitamente despertara nele um desejo inexplicável de mudar de ares por um tempo, para quebrar, quem sabe, a sua vida pacata de ouvir música, fazer caminhadas no mato no verão ou nadar na lagoa próxima à casa. Sem saber bem o que estava fazendo, pega o telefona e digita o número que consta no anúncio.
Enquanto se desenrolam as tratativas para a assinatura de permuta temporária, Zuckermann vê-se assediado por um jovem jornalista inescrupuloso, candidato a escritor, que busca incessantemente obter informações sobre um escritor famoso, já morto, que havia ajudado Zuckermann a dar os primeiros passos em sua carreira de escritor. Esse escritor falecido teria um segredo que não interessava à família que fosse revelado. A partir de então, a vida de Zuckerman acaba se tornando um inferno.
Não se pode dizer que Philip Roth vá retirar de cena definitivamente seu alter ego. O que se sabe é que, mais uma vez, em Fantasma sai de cena, Roth consegue amarrar muito bem sua história, criando interesse do início ao fim da narrativa.

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Philip Roth. Fantasma sai de cena. SP, Cia das Letras, 2008, 288 pp. R$ 46,50

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