domingo, 7 de outubro de 2012

Livro do desassossego

Livro do desassossego é o livro de prosa de Fernando Pessoa (1988/1935) que mais se aproxima do romance. Nele, Pessoa nos apresenta o diário de Bernardo Soares, mais um heterônimo seu. Fernando Pessoa nos conta no prefácio do livro, que conhecera seu heterônimo Bernardo Soares num pequeno restaurante de sobreloja, frequentado por tipos curiosos, mas sem interesse. Todas as vezes que calhava dele jantar no local, encontrava sempre um indivíduo lá pelos seus trinta anos, magro, curvado exageradamente quando estava sentado, vestido com certo desleixo. No rosto pálido, havia um ar de quem sofrera muito na vida. Com o tempo, observando-o melhor, notou sob o abatimento aparente e a impressão de angústia que sempre carregava, um certo ar de inteligência que o animava. Soube, através de um criado do estabelecimento, que era empregado no comércio, numa casa ali perto.
Um dia houve uma cena de pugilato na rua em frente ao restaurante que acabou aproximando os dois. Ao se aproximar das janelas para olhar o ocorrido, Pessoa trocou com o homem obscuro uma frase casual, e ele respondeu no mesmo tom. Desde esse dia passaram a se cumprimentar, até que, uma vez, caminharam juntos. O homem, a certa altura perguntou a Pessoa se ele escrevia. Pessoa respondeu-lhe que sim, falou-lhe da Revista Orpheu, onde escrevia. O homem surpreendeu-se positivamente, pois conhecia a revista. Então, revelou ao poeta que escrevia também, durante a noite, para espantar a solidão. Bem, o homem acaba convidando Pessoa a visitar seu quarto humilde e lhe mostra seus escritos, que constituem o Livro do desassossego, com que o leitor vai se deliciar.
Bernardo Soares nos diz em seu diário, que nunca fizera nada a não ser sonhar. Era apenas esse o sentido de sua vida. Nunca tivera outra preocupação verdadeira a não ser sua vida interior. Ele nos afirma que nunca pretendeu ser outra coisa, que não um sonhador. Pertencera sempre “ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser”. Tudo que tivera de seu, por mais baixo que fosse, constituía-se de poesia para ele. Nunca amou senão coisa nenhuma. À vida, nunca pediu senão que passasse por ele sem que ele a sentisse. Do amor, exigiu apenas que nunca deixasse de ser um sonho distante. Para ele, não há saudade mais dolorosa do que as das coisas que nunca foram.
Livro do desassossego é um livro fragmentário, sempre em estudo pelos estudiosos do poeta. A cada edição, a obra sofre algum acréscimo ou decréscimo, já que Pessoa não era lá muito organizado com suas notas. Quase tudo que Fernando Pessoa produziu, foi publicado após sua morte. Na edição da obra que recomendo, a organizadora explica o processo de edição do texto.

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Fernando Pessoa. Livro do desassossego. SP, Cia. De Bolso, 2006, 560 pp. R$ 33,00

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