domingo, 17 de fevereiro de 2013

Lição dos mestres


George Steiner é renomado professor e crítico literário. Nascido em Paris, em 1929, com profunda erudição filosófica, pedagógica e literária, já lecionou nas universidades em Cambridge, Genebra, Harward e Yale. Em Lição dos Mestres, ele nos propõe uma reflexão sistemática sobre a interação sutil e complexa entre poder e saber, confiança e paixão, a partir da relação de mestres e alunos, os discípulos, partindo de Sófocles e Platão, Jesus e seus apóstolos, Virgílio e Dante, Nietzche e o músico Peter Gast ( o filósofo achava que estava enlouquecendo pela irremediável solidão decorrente da incompreensão de seus alunos), Husserl e Heidegger, etc.
Steiner nos diz que o discípulo representa um caminho para que o intelecto não envelheça. Para ele, conhecimento é transmissão. No progresso, na inovação, por mais inventivos que sejam, o passado está presente. Os mestres seriam os guardiães e os transmissores da memória. Os discípulos aprimoram, disseminam ou rejeitam os fios que tecem essa identidade pessoal e social.
Steiner nos fala, ainda, do caráter “sacerdótico” do magistério. Em qualquer contexto étnico, qualquer que seja a civilização, o magistério sempre teve profundas raízes na experiência e no culto religioso. Nas origens do magistério encontra-se o sacerdócio. O mestre medieval ou do renascimento era o teólogo.  A herança teológica, entretanto, foi se enfraquecendo ao longo do tempo. Porém, suas convenções mantiveram-se na modernidade. Essas convenções de espírito eram subscritas por uma reverência praticamente inquestionável e evidente. Reverenciar o mestre era a forma natural de relacionar-se com ele.
O crítico toca numa questão relevante, e pouco comentada nessa relação de mestre e discípulo: seu aspecto erótico. Existe muito da sedução, da conquista que o mestre exerce sobre o discípulo e da submissão deste a seus caprichos. Alguns mestres burlaram o lado ético dessa questão e tiveram relacionamentos íntimos com seus discípulos: Jung e sua paciente russa Sabina Spielrein, que depois se tornou psiquiatra,  Ingmar Bergman e Liv Ullman, para citar os mais recentes conhecidos.
Apesar de apresentar alguns conceitos contraditórios (há quem possa implicar com a afirmação de que ensinar é transmitir, por exemplo), trata-se de um livro que qualquer pessoa interessada em cultura deve ler.
                                                                   Paulinhopoa2003@yahoo.com.br

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George Steiner. Lições dos Mestres. 2ª ed., RJ, Record, 2000, 2010, 240 pp.  R$ 32,90

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