domingo, 3 de março de 2013

Don Segundo Sombra



Don Segundo Sombra, obra do escritor argentino Ricardo Güiraldes, trata da vida de um guri de nome Fabio, que sai da casa dos tios depois de ser abandonado pelo pai e conhece Don Segundo Sombra, pampeiro experiente que o ajuda e o ensina a trabalhar no campo, domando cavalos e trabalhando em todo o pampa argentino. Assim, Fabio vai criando uma identidade de “gaucho”, a figura solitária e campeira do pampa.
Don Segundo Sombra é um homem solitário, com muita experiência e sabedoria popular, além de exímio domador de cavalos. Com ele, o guri leva uma existência nômade, aprendendo a viver e a trabalhar no campo, guiado por esse gaúcho que se transforma em seu padrinho e mestre. Em cada povoado que passam, entre bailes, brigas de galo, organizando a boiada, mais as histórias que Don Segundo lhe conta, fazem dessa etapa a fase mais feliz da vida do piá.
Um certo dia, o jovem recebe uma carta que lhe revela, agora, ser um homem rico, pois fora reconhecido pelo pai, que lhe deixara toda sua fortuna. Esse acontecimento marca profundamente a vida de Fabio, que não gostaria de aceitar a mudança de vida. Incentivado por Don Segundo, assume suas terras, tornando-se estancieiro. Na estância, trava amizade com o filho do administrador, que lhe aponta os caminhos da cultura intelectual, infundindo-lhe o amor pelos livros e pela cultura.
Esta novela de Güiralde é a primeira obra de caráter universal da literatura gauchesca argentina. A obra transpõe as fronteiras do pampa para mostrar os valores do “gaucho”, que nós, gaúchos, herdamos a tradição. A literatura sul-rio-grandense possui bons romances que evidenciam a figura de nosso gaúcho pêlo duro, que identifica nossa identidade com o pampa. Contos gauchescos e Lendas do Sul, de Simões Lopes Neto, o mais fiel e o mais popular dos regionalistas gaúchos, são obras-primas da literatura brasileira. Grande escritor, Lopes Neto revive a vida dos campos, o linguajar e os costumes gauchescos, as lendas regionais, sem se restringir ao mero pitoresco, mas vertendo em suas criaturas toda a força das paixões e caos humanos, dando a sua obra interesse permanente. O autor pelotense transpõe suas histórias na voz inconfundível do pampeiro Blau Nunes, índio velho e contador de causos na hora de folga dos galpões. Outros escritores de temática gauchesca imergiram a figura do gaúcho no panorama social e político do século XX, a partir de Borges de Medeiros e Getúlio Vargas. Memórias do Coronel Falcão, de Aureliano de Figueiredo Pinto, é um romance de fronteira gaúcha escrito por um médico estancieiro, onde o mundo do campo, sua gente e suas transformações aparecem vistos de dentro para fora, numa época conturbada pelo borgismo. Cyro Martins nos coloca a figura do gaúcho a pé, o que perdeu sua pequena propriedade, o gado e o cavalo para os grandes pecuaristas com suas máquinas agrícolas, vindo a formar os bolsões de miséria das cidades grandes. Os livros Sem rumo, Porteira fechada e Estrada nova, compõem a chamada Trilogia do Gaúcho a pé.
Voltemos a Ricardo Güiraldes, para acrescentar que o escritor nasceu em Buenos Aires, em 1886, e morreu em Paris, em 1927. De origem aristocrática, cuja família tinha inúmeras propriedades rurais, com um ano de idade foi morar na Europa, retornando quatro anos depois à Argentina, vivendo sua infância e juventude nas estâncias de seu pai.

                                            paulinhopoa2003@yahoo.com.br
                                                                                       
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Ricardo Güiraldes. Dom Segundo Sombra. Porto Alegre, Ardotempo, 2011, 334 pp., R$ 40,00

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