
A missão confiada se converte na razão de ser do Sargento
Getúlio. Quando recebe a informação de que deve soltar o prisioneiro, devido às
reviravoltas políticas na capital, decide continuar firme com seu propósito,
executando a lei por conta própria. Como fundo da história está o conflito
ideológico e o comportamento degradante de personagens, cujo objetivo é sobreviver
num espaço hostil, dominado pela corrupção política. O romance de João Ubaldo Ribeiro
(1941) foi publicada em 1971, em plena vigência do regime militar.
O autor de Sargento Getúlio constrói a história, rompendo a
estrutura narrativa tradicional, numa construção aparentemente caótica (mas nem
por isso difícil de ser compreendida). No primeiro capítulo, Getulio fala em
monólogo ou em diálogo com Amaro, o chofer que o acompanha, e com o preso, que
não fala em nenhum momento da narrativa. Todos estão voltando da cidade de
Paulo Afonso, onde foram buscar o prisioneiro.
Reviravoltas políticas fizeram com que o mandante da busca denunciasse o
sargento Getúlio, para salvar a própria pele. Getúlio nega-se a entregar o
preso. Na luta, acaba degolando um tenente e a situação se complica. A partir
daí, resolve cumprir a missão por conta própria. Na consciência conflituada e em crise total
do protagonista, as noções de espaço e tempo vão desaparecendo aos poucos. Sargento Getúlio, em sua trajetória existencial, descobre que o tempo correu e
que o mundo mudou. Como se nega a aceitar essa mudança, sua epopeia tem um
final trágico.
João Ubaldo Ribeiro. Sargento Getúlio. RJ, Ponto de Leitura,
2010, 176 pp. R$ 14,90
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