domingo, 24 de março de 2013

Ravelstein


O canadense Saul Bellow (1915/2005) fez parte de um grupo de escritores que exercem o gênero romance-ensaio (parecem ser, ao mesmo tempo, romance, ensaio, tratado científico, história e reportagem), para melhor constituir o espelho do homem e da sociedade.Só assim o leitor contemporâneo chegaria a acreditar na “verdade da ficção”. É tendência do romance moderno, a partir do século XX. Doutor Fausto, de Thomas Mann, O jogo das contas de vidro, de Herman Hesse, Ulysses, de Joyce, os romances e o teatro de Sartre e Simone de Beauvoir, a obra de Jorge Luís Borges; no Brasil: O filho eterno, de Cristóvão Tezza e 9 noites, de Bernardo Carvalho, como um punhado de inúmeros exemplos. Há casos em que a imersão na realidade política e social é tão intensa, que a história torna-se árida, parecendo fugir ao mundo da ficção. As obras de Saramago, a meu ver, são assim, a história se perde nas reflexões políticas do autor em meio à trama.
Ravelstein, de Saul Bellow, é um bom romance. Lança o foco nos momentos finais de um intelectual judeu, vítima da condição humana, numa vida sem sentido. Com formação clássica sólida, elitista, refinado, o protagonista aproxima-se do fim de sua vida pródiga, tendo conquistado fama e fortuna. Como fora professor, tem seu grupo de seguidores, ex-alunos seus a quem havia ensinado filosofia política e passaram a amigos de longa data. Um de seus discípulos sugere que ele lance um livro acerca do que sustenta a humanidade ou tem capacidade para destruí-la. O livro é um sucesso e Ravelstein torna-se um milionário. Entretanto, sabedor de que está prestes a morrer em decorrência da Aids, Ravelstein pede a esse amigo que faça sua biografia. No diálogo que os dois mantêm em função desse propósito, Saul Bellow confronta o nihilismo americano ao dizer às pessoas o que elas talvez não queiram ouvir. Trata-se de uma reflexão sobre a mortalidade. Supõe-se que a personagem Ravelstein foi inspirada em Allan Bloom, filósofo político que influenciou não só Bellow, mas gente como Margareth Tatcher, Sartre e Beauvoir.
Ravelstein está esgotado, mas você encontra exemplares novos no sebo Balaio Digital, a R$ 7,90.

                                          paulinhopoa2003@yahoo.com.br

============================= 
Saul Bellow. Ravelstein. Rio, Rocco, 2001, 216 pp.

Nenhum comentário:

Postar um comentário