domingo, 6 de julho de 2014

Medeia

Caro leitor, queres ganhar Terras do sem fim novinho? Escreve pra mim, manifestando o interesse. Esse é um de outros livros que pretendo brindar a meus leitores. Leitor compulsivo, acabo comprando exemplares duplicados.

Crisômalos ou tosão de ouro ou velocino de ouro eram denominações que os antigos gregos davam a um carneiro com pêlo de ouro que nadava, voava e corria melhor que qualquer outro animal. Transportou Frixo e Hele sua irmã para o Oriente, para fugir da madrasta que os queria sacrificar a Zeus. Frixo sacrificou o carneiro a Zeus e ofereceu a pele a Eetes, rei da Cólquida (hoje República da Georgia) . Enquanto isso, no reino de Iolcos, na Grécia, Pélias havia usurpado o trono de seu meio-irmão Eseu, pai de Jasão. Mais tarde, adulto, Jasão reclama o trono e Pélias lhe propõe trazer da Cólquida o velocino de ouro em troca do trono. Jasão e um grupo de grandes heróis a bordo do navio Argos partiram em busca do velocino de ouros. Eram os argonautas: Jasão, Teseu, Hércules, Orfeu, Castor e Pólux, entre outros. Após muitas peripécias perigosas, alguns deles chegam finalmente à Cólquida. O rei Eetes, que era pai de Medeia, impõe a Jasão uma série de tarefas dificílimas que consegue vencer, contando muito com a ajuda de Medeia, que era feiticeira.  Jasão consegue, finalmente, apossar-se da pele preciosa, inciando a viagem de volta, trazendo consigo Medeia, que se apaixonara por ele. Para que não fossem perseguidos, Medeia mata seu irmão. Ao chegarem a Iolcos, Medeia mata Pelias, para vingar o castigo que ele havia imposto a Jasão, com a busca do carneiro de ouro.  Medeia e Jasão são expulsos e fogem para Corinto. Os dois têm dois filhos. Depois de tempos,Jasão apaixona-se pela filha do rei Creonte, Creusa. Sentindo-se traída e abandonada, Medeia joga sua ira contra Jasão e a noiva. Aí começa a tragédia Medeia, de Eurípedes, quando ela transforma o amor por Jasão em ódio sobre-humano. Outra humilhação lhe é imposta por Creonte, a expulsão da feiticeira e de seus filhos de Corinto, com medo de seus poderes extraordinários. Medeia, humilhada e confiante em seus poderes mágicos decide se vingar de Jasão por todos os meios possíveis e em tudo o que puder feri-lo. Durante a peça, o abatimento pelo repúdio do marido vai se transformando em desejo terrível de vingança e extermínio: Medeia planeja e executa a morte da jovem noiva e dos filhos de Jasão, deixando-o abandonado e mergulhado em uma dor profunda. E ainda foge impune no carro de Apolo. Essa solução inesperada, improvável e mirabolante para terminar uma obra de ficção ou drama é conhecida como deus ex machina. Este dispositivo é na verdade uma invenção grega. No teatro grego havia muitas peças que terminavam com um deus sendo, metaforicamente, baixado por um guindaste até o local da encenação. Esse deus então amarrava todas as pontas soltas da história.
A primeira encenação de Medeia teria sido em 431 a.C, mas continua sendo encenada até  hoje pelo mundo todo, graças à atualidade de seu argumento.  O texto apresenta uma intensidade dramática e o delineamento dos personagens através das falas impecáveis.  O momento da conciliação simulada que Medeia tem com Jasão, assim como o solilóquio em que se reflete sua indecisão quanto a matar ou não os filhos, fazem de Medeia um dos mais finos e profundos estudos que um autor fez da alma humana feminina, conforme nos diz Mario da Gama Kury, tradutor dedicado do teatro grego antigo.
Existe uma edição de Medeia traduzida por Trajano Vieira por 39 reais, livro novo. É possível garimpar nos sebos o Teatro de Eurípedes com as peças Hipólito, Medeia e As Troianas, com tradução de Mario da Gama Kury (é a que eu tenho) por um preço médio de 28 reais. Chico Buarque e Paulo Pontes adaptaram Media para o teatro, com Gota d'água, na  atuação impecável de Bibi Ferreira. A peça aconteceu no Teatro Leopoldina (depois Teatro da Ospa, na Av. Independência), lá por 1980. Alguém assistiu?
                                                paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Eurípedes. Teatro de Eurípedes: Hipólito, Medeia, As Troianas. Rio, 
Civilização Brasileira/Mec, 1977, 276 pp.


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