domingo, 24 de julho de 2011

O ídolo pelo avesso


Os jornais noticiaram neste sábado a morte de Amy Winehouse. Os reporteres e fãs diziam que já sabiam que o destino dela seria esse, mas não pensavam que ia ser tão cedo. Suas atitudes e os escândalos noticiados pela mídia criaram a esteira para que afirmassem isso. A cantora necessitava do álcool e das drogas para sobreviver. Sabemos de personalidades que carregavam o enigma que não conseguimos depreender com isenção de partido: para eles, viver dói e dói muito. É possível não ter amor à vida e seu futuro de felicidade a ser conquistada. Os alcoolistas são assim. Os drogaditos também. Não é preciso ser famoso para sentir a mesma dor dos famosos que amamos, morrendo em desastre, na mais completa solidão. Quem consegue permanecer vivo, vive sempre o dia de hoje, pois a vida é uma batalha. Deprimida constantemente, Amy era mais famosa por seus pileques e atitudes agressivas do que por sua música. Esqueceu letras e caiu em shows no Brasil.
Quando tropeçou e caiu,a platéia aplaudiu, confortando-a do constrangimento. Muitos não gostaram de sua performance frígida. Foi gravada e fotografada no bar do hotel em que estava hospedada, no Rio, bebendo do conteúdo mortal que a alimentava viva.
A imprensa toda está explorando o 27 como um número cabalisto. Amy Winehouse, Janis Joplin, Jimy Hendrix, Kurt Cobain e Jimi Morrison morreram jovens, todos aos 27 anos, sozinhos e de uma forma trágica. Lutaram para se expressar e morreram reféns do vício. Todos deixaram sua marca na estrada da música. Janis Joplin seduzia pelo vozeirão e movimentos felinos. Cantava o blues como ninguém. Disse que trocaria todos os dias de amanhã por um dia do passado. Símbolo da contracultura, eternizou sua imagem cultuada até hoje. Jimi foi outro símbolo de uma mesma geração. Deus da guitarra, criava e experimentava sons antes deles serem misturados pela tecnologia dos dias atuais. Num show em Monterey, 1967, entrou em transe, queimou e destruiu uma guitarra sob o delírio da platéia. Morrison, do The Doors, culto e sexy, andou sempre em busca de novas sensações. Várias vezes saiu algemado do palco por bebedeira e atentado ao pudor. Cantou bêbado em vários shows, caindo e rolando no palco. Kurt Cobain, do Nirvana, cometeu suicídio em 1994. Viveu um turbilhão psicológico com a atriz Courtney Cox. Deprimido, mergulhou na heroína.
O escritor Rodrigo de Souza Leão escreveu que na vida às vezes a gente tem de escolher entre esmurrar a ponta de uma faca ou se deixar queimar no fogo. Gente famosa como Amy Winehouse e gente anônima que sofre da pulsão de morte carregam consigo o enigma do desgosto pela vida. Viver pode ser uma dor muito profunda que nós, que não a sentimos ou não a sentimos com essa intensidade, talvez não a consigamos compreender. Nem aceitar.

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