domingo, 17 de julho de 2011

Universo particular



A vida é bela se você colocar o mundo ao redor de seu umbigo. Você vai criar seu universo particular. Vai selecionar as coisas que lhe são necessárias para dizer que se considera feliz e o mundo é maravilhoso. Seu universo é uma bolha. Nela você coleciona os amigos que lhe interessam, faz seu fisiculturismo, trata de sua saúde com uma alimentação competente, bebe seus 10 copos de água por dia, trata bem de seu sono, seleciona criteriosamente as coisas a seu redor. E assim vai. E você é feliz, pois a vida é bela. Em seu universo particular não há lugar para a pobreza, pois ela é feia e você não se considera responsável por ela. Atitudes maldosas e interesseiras, será que você as tem? Fazem parte de seu universo particular? Não, você se considera justo e a moral é uma meta. É importante ser correto, tratar as pessoas com justiça e igualdade, mas isso não quer dizer que determinados iguais possam fazer parte de sua bio-bolha E assim vai e você é feliz e a vida é bela. Se você se olhar por dentro, também, e verificar que uma vontade muito grande de viver é mais importante que o viver alheio, porque você se considera um vencedor de si mesmo, a vida também é bela.
Agora, você tira o olho de seu umbigo e concorda que o cinismo combina com a castidade. Ou a alma humana não é a mesma em toda parte, talvez a vida não lhe seja bela. Se o bem tem importância menor que a do mal, o desconforto do outro desloca sua comodidade... A vida não é bela. Não pode ser bela a vida que é cumprida por obrigação e sem prazer. Quando você transa sem camisinha com o namorado que conheceu na semana passada e nem se lembrou disso, alguma coisa está fora da ordem. As coisas boas e ruins da vida ao mesmo tempo não constituem beleza. O amor do filho pelos pais não é o mesmo amor dos pais pelo filho. O amor filial da infância e juventude esmaece, fica pálido. Torna-se afeto por obrigação, quando não se precisa mais deles. Quando você comete pequenos deslizes e os justifica porque fazem parte da cultura, como atravessar a faixa de segurança no sinal vermelho, segurando uma criança pela mão: não vinha carro e você foi cuidadosa. Dar uma estacionada relâmpago em vaga de deficiente físico de um banco eletrônico não faz mal nenhum, era coisa rápida, se aparecesse o deficiente físico você daria o lugar a ele, sem problema. No trânsito congestionado, dar passagem a um carro que está saindo da garagem, nem pensar, você está com pressa, ainda mais se você for mulher. Galanteria é coisa de homem.
A vida é bela. A vida não é bela. O egoísmo, muitas vezes, faz-nos acreditar que estamos bem, contentes em nossa zona de conforto, libertos da ansiedade e do medo de morrer (há pessoas que têm medo de viver). Então acreditamos ser felizes. E somos, porque não. Estamos no tempo. E o tempo não para. E ninguém é cem por cento feliz para sempre. A vida não teria graça sem o sofrimento para nos recompor a felicidade. Viver é complicado. É triste. É belo. É paradoxo.

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