domingo, 22 de abril de 2012

Tia Júlia e o Escrivinhador

O escritor iniciante Mário Vargas, o Varguitas, toma-se de amores por sua tia Júlia, boliviana, divorciada e mais velha que ele. Sua paixão é correspondida, mas encontra resistência especialmente na família, por parte do pai, que tenta impedi-lo de casar-se, de todas as formas possíveis. Varguitas tem 18 anos e, pela lei peruana, não pode contrair núpcias sem a autorização paterna. Ele e a tia, com ajuda de amigos e de uma prima, tentam realizar o casório de todas as formas, incluindo alguns subornos. Quando finalmente conseguem oficializar a união, seu pai o ameaça, prometendo acusar a tia como corruptora de menor. No final, o amor vence e as coisas se resolvem. Romance com fortes traços autobiográficos, seja porque o narrador tem o mesmo nome do autor e acabe ganhando notoriedade como escritor fora do Peru, como Vargas Llosa, seja porque o escritor casou-se na vida real os 19 anos, com Julia Urquidi, irmã da mulher de seu tio materno, passando a ter vários empregos para sobreviver, até ganhar uma bolsa para a Espanha e solidificar sua carreira intelectual e política.
Os capítulos são entremeados com a história de Mario e Julia e as histórias de periódicos de Pedro Camacho, escritor que nunca abdicou de textos de gosto popular, pois eram lidos na rádio local. Os periódicos apresentam um humor salpicado por por estereótipos do gênero, como os infortúnios, os senhores de cinquenta anos "na flor da vida", o incesto , amor não correspondido e impossível, a religião. Esse é um grande mérito do autor, fornecer vozes narrativas diferentes para essas duas partes.
O final do livro, em paralelo com a degradação mental de Pedro Camacho, beira o absurdo e ridículo, misturando personagens de séries anteriores, ou repetindo os nomes das diferentes personagens, criando histórias verdadeiramente hilariantes e absurdas.
A história de Julia também é interessante, parece-me quase autobiográfica, e bastante próximo em seus propósitos para um drama de rádio de Pedro Camacho. Nele, o autor aproveita a oportunidade para falar sobre as classes burguesas e superior de Lima nos anos cinquenta, e seus costumes.
A ironia e a graciosidade da prosa nos leva com facilidade através da história, embora seja um livro longo que, em algumas partes, se mostra repetitivo.
A Folha de São Paulo está lançando neste domingo a Tia Júlia e o escrivinhador, cuja tradução não me foi possível, ainda, avaliar. ======================================
Tia Júlia e o Escrivinhador. Alfaguara Brasil, 2009, 360 pp, E$ 50,00
Tia Júlia e o Escrivinhador. Ponto de Leitura, 2010. 464 pp, R$ 24,00
La tía Júlia y el escribidor. 2ª ed., Buenos Aires, Alfaguara, 2010, 474 pp, R$ 66,740

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