domingo, 8 de julho de 2012

O expressionismo surrealista de Gombrowicz

Witold gombrowicz (1904-1969) nasceu na Polônia e morreu em Paris. Publicou seu primeiro romance, Ferdydurke (traduzido no Brasil pela Companhia das Letras), em 1937. Nesse romance, segundo a crítica, já se encontram as características que marcaram toda sua obra: a imaturidade, o paradoxo, a crise de identidade. Gombrowicz saiu da Polônia para a Argentina pouco antes da Segunda Guerra, vivendo em completa miséria. Quando retornou a Paris, na década de 60, teve seus romances traduzidos para o francês, atingindo, assim, seu reconhecimento como um dos melhores escritores polacos, embora sua obra tenha sido rejeitada em seu país até pouco tempo atrás. Neste espaço, traço algum comentário sobre seus romances A Pornografia (1960) e Cosmos (1965).
Pornografia - A ação do romance se desenvolve na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial. Witold, o narrador-personagem, e seu amigo, Frederico, chegam à casa de campo de outro amigo. Esse outro amigo oculta um adolescente desertor, que pertence à resistência. Nesse cenário, surge uma jovem adolescente, amiga do jovem. Desenvolve-se nesse ambiente de guerra e violência um jogo voyerista de Witold e Frederico, misturado à intriga criminal envolvendo dois assassinatos. Uma das cenas emblemáticas da narrativa é quando se dá uma reunião para decidir o assassinato de um membro do grupo, suspeito de traição. Os participantes, todos adultos, sentem-se incapazes de cometer o assassinato. Sabem o peso que isso significará em suas vidas. Então, planejam uma maneira de fazer com que o crime aconteça pelas mãos dos adolescentes. Por serem jovens, feitos um para o outro, não se dariam conta do que estariam fazendo. Moral: a pornografia metaforizada acontece onde a gente quer vê-la. Por isso, é associada muitas vezes à perversão. Está presente nos outros, não em nós. A tradução da Companhia da Letras, que está disponível no mercado, não conheço. A pornografia que tenho é da Ed. Nova Fronteira, esgotada, mas acessível em sebos virtuais, com tradução de Tati de Moraes e revisada por Ian Michalski.
Cosmos - O início da trama começa parecido com A Pornografia: Witold, o autor no papel de narrador-personagem, mais um amigo, os dois de meia idade, hospedam-se, nas férias de verão, numa pensão familiar do campo. Ali, conhecem uma mulher que tem uma boca horrível, devido a um acidente de carro, e outra mulher, com uma boca maravilhosa. As bocas da duas mulheres se embaralham na mente de Witold, convertendo-se em obsessão. Paralelamente, coisas inusitadas acontecem, como um pardal que é encontrado enforcado por um cordão. Depois, um gato aparece enforcado. Por último, uma pessoa. Quem é o assassino? Uma das personagens disparatadas na novela, o dono da pensão familiar, gosta de inventar palavras misteriosas, latiniza outras, cria provérbios. Situações não factíeis e surreais, assim como deformações do cenário e de pessoas, levando à caricatura, são características que aproximam Witold Gombrowicz do surrealismo e do expressionismo.
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Witold Gombrowicz. A pornografia. RJ, Nova Fronteira, 1986, 240 pp. R$ 15,00 _________________ Pornografia. SP, Cia. das Letras, 2009, 208 pp.R$ 47,00 _________________ Cosmos. SP, Cia. das Letras, 2007, 192 pp. R$ 45,50

2 comentários:

  1. Um bocado difícil ler esses livros. Não sou muito chegada ao surrealismo. Bj

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    1. Não é uma literatura de fácil digestão, Rosa. Esse autor, entretanto, teve grande repercussão na literatura moderna argentina e cria uma universo fantástico que não deixa de ser engraçado. Obrigado pela participação. Bj.

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