domingo, 5 de agosto de 2012

Grandes esperanças

Lemos comumente textos divulgados em jornais e redes sociais, testemunhando que se aprende com os erros cometidos. No caso de Pip, o personagem central de Grandes Esperanças, de Charles Dickens, as virtudes são os acertos que ele faz durante sua trajetória no romance. Grandes esperanças é uma história de redenção moral. O protagonista é um órfão criado num lar humilde que herda uma grande fortuna e imediatamente rejeita os familiares e os amigos. Quando a fortuna desaparece por completo, é obrigado a assumir sua própria ingratidão. Uma das características interessantes de Pip, esse órfão, é que ele é sincero ao confessar seus defeitos, e isso acaba criando nele uma empatia que pode agradar ao leitor. Pip, apesar de ter vergonha de seus pares pobres, é capaz de efetuar boas ações durante a narrativa. É franco com seus sentimentos. Sua franqueza e suas boas ações serão a prova de sua redenção. Durante sua trajetória de altos e baixos, aprende que no encalço do desejo vem sempre a culpa, naquilo que gostaria de ser há aquilo que não pode deixar de ser. O tratamento rígido que recebe da irmã que o criara o faz ver que nada é percebido com tanta intensidade e sentido com tanta intensidade, quanto a injustiça. Isso foi a causa dele ter-se tornado tímido e sensível.
Um dia ele vê-se forçado a ajudar um criminoso em fuga. Sua bondade é reconhecida pelo bandido e isso é parte importantíssima no desenrolar da narrativa. Depois, ele é convidado a frequentar a residência de uma senhora muito rica para brincar com Estella, suposta filha. Ele se apaixona e a senhora lhe propõe mudar de vida, educar-se e ser alguém na sociedade para merecer a jovem. Então Pip passa a ter vergonha do lar e de Joe, seu padastro, um homem tosco, mas profundamente amoroso com Pip. É terrível ter vergonha do próprio lar,talvez seja a mais negra ingratidão. O lar nunca fora o lugar muito agradável para ele, devido ao temperamento de sua irmã. Antes, ele acreditava que o seu lar era o modelo correto de viver e conviver. Que a ferraria de Joe era o caminho da maturidade e independência. Um ano depois, entretanto, convivendo com Estella, tudo aquilo passa a ser-lhe grosseiro e vulgar. Passa a pensar ser vergonhoso se um de seus novos amigos um dia pudesse visitar sua casa humilde. A partir do momento em que Pip muda-se para Londres, muitas coisas acontecem. Seu espírito contraditório acaba levando-o à ruína, mas lhe traz a maturidade necessária para compreender que as grandes esperanças que tem em relação à vida incluem, no caminho, o reconhecimento do amor e da justiça.
O romance foi publicado originalmente em três volumes no ano de 1861, depois de ter sido publicado em folhetim um ano antes. Dickens, assim como Machado de Assis, José de Alencar e inúmeros escritores dessa época, publicavam seus romances em capítulos nos jornais. Por causa disso, sua técnica narrativa é muito bem amarrada. O final de cada capítulo leva o leitor a querer continuar a leitura do capítulo seguinte. Muito bem escrito, apresenta uma linguagem poética cativante.
Charles Dickens (1812-1870)nasceu na Inglaterra. Sua vida transcorre durante o período vitoriano, com a ascensão da Revolução Industrial, que trouxe progresso à nobreza e miséria à classe trabalhadora que surgia então. Sua obra transparece a crítica social a esse estilo de vida, que ele considerava injusto. Sua obra apresenta, assim, traços realistas. Seus romances apresentam, quase sempre, órfãos como heróis. Não raro, certo tom pessimista no futuro de seus personagens. É dos grandes da literatura universal.
==============
Charles Dickens. Grandes esperanças. SP, Penguin Companhia, 2012, 704 pp. R$ 37,00

2 comentários:

  1. Um dos meus livros inesquecíveis, lido ainda na adolescência. Que bom reler através da tua resenha. Bj

    ResponderExcluir
  2. Adoro esse livro, Rosa. Estou aguardando novas edições com boas traduções, para me deliciar. Bj.

    ResponderExcluir