domingo, 8 de janeiro de 2017

34. Macunaíma

No meio da mata virgem, às margens do Uraricoera, uma índia tupinambá pare um menino preto retinto e feio, chamado Macunaíma. Passou seis anos sem falar, e quando o incitavam a fazê-lo, dizia: "Ai, que preguiça!" Sempre foi muito ativo e a coisa que mais gostava de fazer era "brincar" com as índias no rio. Tinha dois irmãos mais velhos, Maanape e Jiguê, este tinha uma mulher, Sofará. Um dia, Macunaíma transforma-se num belo príncipe e brinca com a cunhada, causando a ira de Jiguê, que a manda embora, casando-se com Iriqui, que também brinca com Macunaíma. A Jiguê não resta outra alternativa, a não ser se conformar.

Um dia, a cutia lhe dá um banho de água de mandioca envenenada e Macunaíma se transforma em homem, mas a cabeça, que não havia sido molhada, permanece pequena. Quando sai à caça, certo dia, mata acidentalmente uma veada com a cria. O animal era a mãe do herói, transformada em veada por Anhangá. Todos choram a morte da mãe e decidem sair por este mundo afora. No caminho, Macunaíma possui Ci, a Mãe do Mato, rainha das amazonas. Ci acompanha Macunaíma na viagem, dá à luz um menino de cor encarnada e cabeça chata. O menino, ao chupar o seio da mãe, que havia sido mordido por uma cobra preta, morre. O menino é enterrado, Ci entrega a Macunaíma uma muiraquitã e vai para o céu , subindo por um cipó. Quando o herói visita o túmulo do filho, no dia seguinte, vê que sobre ele nascera uma planta, o guaraná.

Nas muitas andanças e peripécias de Macunaíma, este acaba perdendo a pedra muiracitã, que havia sido encontrada por um homem que o vendera a Venceslau Pietro Pietra, o gigante Piaimã. Macunaíma descobre o paradeiro da pedra e decide, com os irmãos, ir para São Paulo, onde morava o gigante, para tentar recuperar a pedra. No final da rapsódia, Pietro Pietra acaba caindo em caldeirão de macarronada, a pedra é recuperada e Macunaíma volta ao Uraricoera. No final, a tribo se acabara, a família virara sombras, a maloca ruíra minada pelas saúvas e Macunaima subira aos céus transformado na estrela Ursa Maior. Só restara o papagaio no silêncio do Uraricoera, preservando do esquecimento o caso e as falas desaparecidas sobre o herói de nossa gente. O papagaio foi quem contou tudo ao homem, Mário de Andrade.

Macunaíma é a obra síntese do Modernismo brasileiro. Publicada em 1928, seis anos depois da Semana de Arte Moderno, é representativa da miscigenação das diversas culturas que formam o Brasil. De posse da muiraquitã, no final da história, os irmãos retornam ao lugar de origem, carregando na canoa objetos de diversas procedências, como um casal de galinhas Legorne, um revóver Smith Wesson e um relógio Pathek Philipe, símbolos da cultura estrangeira, indicadores dos valores capitalistas transportados ao lugar de origem, compondo o perfil do herói sem nenhum caráter. O termo sem caráter, aqui, longe de ter o significado de indivíduo de moral duvidosa, representa a síntese da alma brasileira forjada através de uma cultura transplantada e adaptada ao mundo moderno, com o advento do capitalismo que chegou ao Brasil no início do século XX, para o bem ou para o mal. O antropofagismo cultural surgido com a Semana de Arte Moderna significa que, para haver avanço cultural, é necessário assimilar tudo de novo que vem de fora, miscigenando-o à cultura já existente, em vez de negá-lo.

A edição que eu li é a sétima, da Martins Editora, de 1972. Há edições recentes da Civilização Brasileira e da Penguin Editora, por preço baixo.

      

                                                       paulinhopoa2003@hotmail.com

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