domingo, 15 de janeiro de 2017

35. Duas obras primas de Faulkner

 O Som e a Fúria (1929) conta a história da decadente família Compson no cenário quase sempre presente nas obras do autor, o Condado de Yoknapatawpha, a partir de quatro narradores diferentes, três deles irmãos: Benjy, um idiota que não fala e cujo pensamento é expresso pelos sentidos, especialmente o olfato; Quentin, o irmão estudado, frequenta a Harvard e nutre um amor incestuoso pela irmã Caddy; Jason, o irmão ressentido que luta contra o tempo e a falência da família; e um narrador onisciente, presente na última parte do livro. “O Som e a Fúria” aborda temas como incesto, suicídio, doença metal, família, conflitos raciais, situação histórica do sul dos Estados Unidos.

Caddy é a menina dos olhos de cada narrador, relacionando-se com os três irmãos por diferentes graus: Benjy, o idiota, chora quando Caddy usa perfume, deturpando seu cheiro natural, ao mesmo tempo em que ela é a única a lhe dedicar atenção; já o amor incestuoso de Quentin pela irmã pode representar um amor eterno, imperecível, e acima da carne, mas deturpado pelo desejo físico; o desagradável irmão Jason tem uma inescrupulosa busca por dinheiro, extorquindo dinheiro de Caddy.  Jason  buscava sempre uma oportunidade de enriquecer sem precisar trabalhar.
O leitor talvez vá precisar de um pouco de calma para ler “O Som e a Fúria”, pois a narrativa, fazendo usa da técnica do fluxo de consciência,  pode levá-lo a nem sempre saber o que aconteceu. Mas nem por isso sua leitura será desagradável. O esforço de seguir adiante é extremamente recompensador. E também convidativo para uma segunda leitura, talvez até mais prazerosa. Isso não é pedir muito, já que essa pode ser a “história contada por um idiota” mais surpreendente que você tenha a oportunidade de ler.
Há um apêndice sobre a linhagem da família Compson até o seu final.

Tradução de Paulo Henriques Britto

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William Faulkner. O som e a fúria. SP, Cosac Naify, 2004. 336 pp.



Luz em agosto (1932) se passa no condado imaginário de Yoknapatawpha, no sul dos Estados Unidos. A narrativa começa numa estrada do Alabama, onde uma jovem grávida, Lena Grove, busca carona para chegar a Jefferson, à procura de Lucas Burch, o pai de seu filho. Contando com a generosidade de agricultores da região, Lena consegue chegar a Jefferson, e acaba sabendo que no moinho da cidade trabalha um homem que talvez possa ser Burch. Esse homem, na verdade, é Byron Bunch, que se propõe a ajudá-la a encontrar esse rapaz, que ele julga ser Joe Brown. Brown vive em uma cabana na propriedade de Joanna Burden, sobrevivente de uma família de abolicionistas, em companhia de Joe Christmas, que mantém um relacionamento com a tal mulher. Christmas, apesar de ter pele clara, ser órfão e desconhecer qualquer fato de sua descendência, acredita que tenha sangue de negro. Por isso viveu, até o momento da trama, fugindo de seu passado.

A época da narrativa ocorre no calor intenso de agosto,  no final do século XX, época da Lei Seca. Brown e Christmas aproveitam-se disso para contrabandear whisky para ganhar mais dinheiro. Numa noite, há um incêndio na propriedade de Joanna Burden (Luz em agosto), na cabana onde viviam Brown e Christmas. Descobrem, então, que a dona da casa havia sido assassinada e a culpa recai sobre Christmas que foge dali e é caçado impiedosamente até ser executado por um soldado do exército. Brown, preso na ocasião do incêndio, responsabiliza Christmas pelo assassinato e é mantido preso. A partir de então, Byron Bunch, que já estava apaixonado por Lena, arranja um encontro entre o preso e a jovem. Brown acaba desaparecendo de forma obscura.

Há outro personagem interessante na narrativa, Gail Hightower, ex ministro metodista, forçado a se demitir depois que descobriram que sua esposa mantinha um caso extraconjugal numa cidade vizinha, e cometera suicídio após o escândalo. Gail recusa-se a sair de Jefferson, vive uma vida miserável e mantém longos diálogos com Byron sobre a miséria da existência humana.

Faulkner mantém um suspense narrativo de primeira, prendendo a atenção durante todo o livro.

Tradução de Celso Mauro Paciornik
          
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William Faulkner. Luz em agosto. 2ª ed., SP, Cosac Naify, 2007, 448pp


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