domingo, 15 de dezembro de 2013

A Grande Arte

Percor = abreviatura de perfurar e cortar. Arte de usar armas brancas com exímia habilidade, com o objetivo de defesa e/ou ataque.  O termo é utilizado por Rubem Fonseca (1925) como A Grande Arte, em seu romance homônimo. Hermes, um dos personagens do romance e mestre do percor, nos diz que um especialista na arte de matar uma pessoa busca suas artérias. A carótida é sempre fácil de atingir. Um corte de três centímetros de profundidade faz o indivíduo perder a consciência em alguns segundos. A veia favorita de Hermes é a subclávia. A perfuração tem que ser de seis centímetros, é uma artéria que não deve ser procurada numa luta com um adversário difícil, pois, para atingi-la usa-se necessariamente uma empunhadura de maneabilidade reduzida. Quando alcançada, o sangue irrompe num jato forte como uma mangueira de bombeiro, a consciência é perdida em dois segundos e a morte sobrevém no terceiro . O alvo ideal deve ser o  coração. A perda de consciência é instantânea e, se o aço penetrar os oito centímetros apropriados, a morte ocorrerá em dois segundos. O intestino não é um ponto vital. Entre os alvos secundários, o estômago será melhor, se a penetração for de doze ou treze centímetros.

Em A Grande Arte, um assassino conhecia todas as técnicas do uso da faca, era capaz de executar as manobras mais difíceis com inigualável habilidade, mas a usava para escrever a letra P. no rosto de algumas mulheres, quando deitavam a seu lado, falando banalidades. Não imaginava porque fazia aquilo. Talvez fosse por puro prazer, já que não se considerava um psicótico puritano querendo conjurar a congênita corrupção feminina. O detetive Mandrake é designado para desvendar esses assassinatos e prender o assassino. Durante essa trajetória, acaba descobrindo descendentes de famílias aristocráticas falidas envolvidos em forte esquema de corrupção, tráfico de drogas e outras atividades ilícitas.

Rubem Fonseca foi inspetor de policia antes de ser escritor, por isso mesmo sabe lidar muito bem com as situações enigmáticas que envolvem um crime. Dono de uma linguagem objetiva, traz para a literatura personagens pouco explorados , até então, com uma riqueza de detalhes e situações que beiram o insólito, sempre com uma ironia fina. O mestre do percor, que Mandrake se aconselha para aprender a grande arte com a finalidade de entender a personalidade do assassino, acaba sendo morto por um boliviano, Camilo Fuentes, um dos bandidos da história, de maneira imprevisível. Considero A Grande Arte o melhor livro de Rubem Fonseca, ao lado de A Coleira do Cão, livro de contos. O livro foi publicado pela editora Francisco Alves, em 1983. Depois pela Companhia das Letras e, recentemente, pela Editora Agir, detentora dos direitos autorais do romancista.
                                                     paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Rubem Fonseca. A Grande Arte. Rio, Agir, 2013, 528 pp, R$ 49,90

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