domingo, 22 de dezembro de 2013

O Palácio do Desejo


Nagib Mahfuz situa o segundo volume da trilogia do Cairo no período pós-independência do Egito, na terceira década do século XX. Em O Palácio do Desejo, Kamal, o filho mais do patriarca Ahmed Abd el-Gawwad, que no volume anterior (Entre dois palácios) tinha 10 anos, agora é um jovem belo, sensível e idealista, que busca seguir seu coração, optando por fazer a Escola Normal para ser professor, contrariando, assim, a vontade do pai, que o queria advogado ou médico. O pai lhe diz com desprezo que o trabalho de professor é um trabalho de miséria que não tem o respeito de ninguém. Diz que o filho é um fedelho, não sabe de nada . Ensinar é um ofício em que o pequeno burguês vestido à moda europeia se mistura sem distinção ao estudante piolhento dos subúrbio. Um ofício desprovido de qualquer grandeza, de qualquer glória. Entretanto,  Kamal mantém-se irredutível: o papel do professor é difundir o saber. Discordava do preconceito de que a riqueza ou a pobreza pudessem constituir critérios de apreciação do saber ou que este pudesse ter um valor extrínseco. Queria também ser professor para atingir uma meta maior, ser filósofo. A filosofia, para ele, é a disciplina que funde todas as questões relativas ao que seja Deus, ao que seja o homem, a alma, a matéria.  Na faculdade, torna-se amigo de dois jovens da aristocracia egípcia que estudam direito, para satisfazer o desejo das famílias. Inicialmente a amizade ocorre tranquila, até Kamal se apaixonar por Aída, que participava de vez em quando das discussões do grupo. Antes de declarar seu amor a ela, um dos amigos atrapalha suas intenções. É quando Kamal passa a sofrer o preconceito relativo a sua classe social. Aída casa-se com o amigo de Kamal. Mas o amor do rapaz pela moça permanece até o final da narrativa, transformando-o em um jovem sombrio e solitário.
As ruelas, as casas, os palácios, as mesquitas,  as pessoas e o cotidiano da família Gawwad continuam sendo retratadas de forma brilhante por Nagib Mahfuz neste segundo volume. O estilo severo e contraditório do pai dessa família fica abalado por diversos acontecimentos além dos ideais de Kamal. Yasine, o filho mais velho, divorcia-se, casa com a moça que havia sido a grande paixão de, o segundo filho, proibido de desposá-la. Depois volta a casar, dessa vez com  a concubina que era uma das amantes de seu pai. Amina, a mãe submissa, continua a desenvolver o afeto pelos filhos e o respeito ao pai.

O palácio do desejo vale muito a leitura! A bela tradução do francês foi feita por José Augusto de Carvalho
                                        paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Nagib Mahfuz. O palácio do desejo. Rio, Bestbolso (Record), 2008, 644 pp, R$ 25,00

 

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