domingo, 1 de dezembro de 2013

A Sibila

Agustina Bessa-Luís (1923) é das grandes da literatura universal, mas o mercado brasileiro, por razões que a própria razão desconhece, quase não a publica aqui: as únicas exceções foram A Sibila, Sebastião José (ambos pela Nova Fronteira), Vale Abraão (Planeta) -os três esgotados- e os infantis Dentes de Rato e Sombra, Areia e Amoras Bravas (ambos pela Peirópolis). Agustina possui obra extensa, são aproximadamente 40 romances, além de obras teatrais, juvenis, biografias e crônicas. O cineasta português Manuel de Oliveira já encenou diversas obras dela. Considerada por muitos críticos literários superior a José Saramago e Lôbo Antunes, tem tido, por parte do mercado editorial, certa inibição em divulgar sua excelente obra aos brasileiros. As razões, segundo estudiosos da autora portuguesa, seriam talvez a falta de conhecimento da literatura portuguesa, o interesse dos editores de sempre querer vender o que pode render lucro fácil, e a linguagem refinada da escritora, que exigirá do leitor sensibilidade para compreender suas figuras humanas quiçá reduzidas a símbolos mitológicos, vivendo histórias fora do alcance humano.

Em A Sibila, acompanhamos a vida de Quina, uma das filhas de Francisco e Maria, desde o momento em que o pai desaparece e ela tem de tomar as rédeas da casa e dos bens rurais da família. Seu pai afastava-se frequentemente por motivo de trabalho e as mulheres permaneciam longo tempo sem a presença de homem. O desleixo do pai pelas terras, causou o desequilíbrio doméstico da família, falta de dinheiro para desenvolver o gado e a lavoura. A mãe de Quina sentia-se sobrecarregada com o fardo que sua vida inteira talvez não pudesse carregar. Os filhos homens eram omissos. Coube a Quina cuidar da família, com a morte do pai. 
Não parecia destinada ao casamento. Teve um antigo candidato que se havia casado com outra. Ele a visitava depois disso, para contar-lhe seus intrincados problemas financeiros. Quina habituara-se a vê-lo aparecer com uma imagem depreciada, melancólica. A razão sobrepôs-se ao sentimento e passou a ser a conselheira dele nas visitas frequentes que a compensava um pouco da solidão da sua vida sem conforto de um braço mais forte e até duma inteligência em que seria bom reconhecer superioridade. Os prazeres femininos, o amor e a passividade espiritual, as ninharias dum sentimento ou dum capricho que nascem dessa euforia tirânica que as mulheres gostam de exercer sobre aquele a quem sabem ter dominado pelos sentidos, isso lhe foi negado. Restava-lhe satisfazer a vaidade e atingir, por imposição da personalidade, tudo quanto teria dispensado, se tivesse sido uma mulher apenas de temperamento. Dedicou-se a evoluir, a enriquecer seu patrimônio, para manter-se independente. Aos poucos vai envelhecendo em contatos esparsos com os irmãos que a invejavam, mas mantinham-se como desocupados. Certa vez, decide acolher um jovem bruto, quase um parvo, que fora copeiro de uma condessa rica que morrera. A entrada desse jovem em sua vida vai estremecer sua relação com a família e os demais seres com quem convive.

História belíssima, contada com requinte que encanta ao mesmo tempo que desequilibra o leitor mais sensível. A Sibila pode ser encontrada em sebos por preços razoáveis. A Livraria Cultura tem em seu catálogo a edição portuguesa por R$ 81,20, mas leva dez semanas para chegar às mãos do leitor, por causa da burocracia na importação. Livros comprados fora do Brasil não somam  impostos de importação. Os problemas são o alto preço do frete e o tempo de envio.

                 paulinhopoa2003@yahoo.com.br

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Agustina Bessa-Luís. A Sibila. Lisboa, Guimarães Editores, 2009, 298 pp.

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