domingo, 8 de dezembro de 2013

Jaime Bunda, detetive particular

Jaime, um jovem negro angolano, é gordo, com uma bunda saliente. Daí seu apelido. Trabalha como aspirante a detetive numa delegacia onde é ridicularizado pelos colegas por causa do excesso de peso e por se movimentar pouco. Mas Jaime está longe de ser um parvo, pelo contrário, é muito inteligente e sagaz. Sua história começa quando é designado a descobrir o assassino de uma menina de 14 anos, morta brutalmente.  Jaime descobre um suspeito, através da descrição do carro por uma testemunha. Trata-se de um figurão. Junto a isso, descobre o envolvimento do suspeito com um casal de argelinos que ingressara em Angola clandestinamente num cartel criminoso.  Então, o autor da história de Jaime decide demitir o narrador, por estar conduzindo a história com monotonia. Introduz o segundo narrador, a mulher do argelino, revelando os detalhes do envolvimento dos árabes no mistério que Jaime Bunda busca desvendar. Entretanto, se o autor continuar com a narradora árabe, provavelmente vá deslocar a história pelos fabulosos haréns dos sultões e califas das Mil e Uma Noites, perdendo, assim, o espantoso Jaime Bunda e sua infatigável luta contra os horrendos crimes cometidos em Luanda, razão de seus propósitos (do narrador). E como todos devem ter uma segunda chance na vida e o sofrido tempo que vivemos é de proclamar paz e tolerância, dá novamente a palavra ao primeiro narrador, na esperança de que tenha aprendido com seus erros e críticas. Ficamos, assim, conhecendo o lado amoroso de Jaime e seu rolo com Florinda, mulher mais velha e casada com um militar, com quem Bunda mantém um romance um tanto conturbado. Tentativas de afastar o marido de Florinda levam Jaime a pagar um preço nada baixo pela proeza. Finalmente, entra em cena o quarto narrador, para finalizar a história. É quando ficamos sabendo que por trás do crime da adolescente e do envolvimento dos árabes há forte sistema de corrupção, ficamos também sabendo que em Angola, mesmo depois da Revolução que libertou o país, tudo continua igual. As novas figuras notáveis que ocupam a pirâmide social de Angola são iguais ou pior aos velhos.

Ganhei o livro de presente de dois amigos que andaram viajando por Portugual. Foi uma grata surpresa descobrir Pepetela. Jaime Bunda, agente secreto, é um livro de humor. Mas não pense tratar-se de um humor despretensioso calcado no besteirol. Pepetela usa do humor inteligente para nos fazer pensar. Pepetela (1941) é angolano descendente de uma família colonial portuguesa, seus pais também nasceram em Angola. Participou da luta pela libertação de Angola, com o  MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), por isso sua crítica tem fundamento prático, pois viveu a história de Angola.  É dono de vasta obra que começa a ser divulgada no Brasil.  Jaime Bunda, agente secreto pode ser encontra em e-book na Livraria Cultura. Um livro em excelente estado pode ser encontrado na Estante Virtual por 32 reais. Dá para comprar um exemplar novo em sítios portugueses, mas é preciso paciência para esperar 5 semanas para receber o livro. Livro importado não paga imposto. Quando esteve participando de uma mesa de debates em Porto Alegre, nesta última Feira do Livro, Pepetela nos deu a boa notícia de que sua obra começará a ser comercializada no Brasil brevemente.
                                              paulinhopoa2003@yahoo.com.br

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Pepetela. Jaime Bunda, agente secreto. 10ª ed, Editora Dom Quixote (Portugal), 2012, 336 pp

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