terça-feira, 1 de junho de 2010

Ensinar, aprender o desenvolvimento em uma perspectiva pós-vygotskyana.

Certa vez estava em Brasília para reforumulação de um curso de linha do Banco do Brasil e o colega que coordenava o projeto me disse que se todos os doutores em educação voltassem às salas de aula das séries iniciais, a educação teria outro sentido, mais produtivo e verdadeiro. Penso que ele tenha sua razão. A educação evolui muito a teoria, mas ainda se observa a prática centrada no tradicionalismo: professor dando aula e aluno ouvindo. Meu trabalho como educador formador de alfabetizadores de jovens e adultos me traz o desejo de poder observar in loco a atuação dos alfabetizadores formados nos cursos. Poder observar a postura mediadora do alfabetizador, segundo que se discute sobre Vygotsky e ZDP.


Mas, como sou também simpático às teorias, quero partilhar com quem gosta de teoria de educação, especialmente de Vygotsky, uma palestra que assisti na Faculdade de Educação da Ufrgs, sugerida por Júlio Zacouteguy, nesta terça-feira (25/05/10), com a professora Anna Setsenko, do Programa de Doutorado em Psicologia do Desenvolvimento, envolvida com educação urbana e com o Centro de Estudos da Mulher e Sociedade do Centro de Pós-Graduação da City University of New York (CUNY, NY). A pesquisadora é reconhecida como uma representante proeminente da teoria da atividade de Vygotsky. Desenvolveu a noção de aprendizagem e desenvolvimento enquanto projetos ativistas de devir histórico, dentro de práticas transformadoras colaborativas. A palestra foi em inglês, mas as lâminas expostas estavam em português. O relato:

- a professora começou dizendo que não há nada mais prático que uma boa teoria. E que todos temos uma teoria. O importante é saber como nos referir a ela, de acordo com as diversas situações de ensino-aprendizagem.

A seguir, fez um breve histórico das formas de ensino do passado para o presente, criticando o cognitismo, que predominou até bem pouco tempo, em nosso ensino dito tradicional. O cognitismo, segundo ela, peca pelo individualismo. O ser humano pensa sozinho, sem necessariamente comungar com os demais. Passando à atualidade, citou Piaget, Jewey e Vygotsky (também citou Paulo Freire), como defensores de um enfoque educacional mais humanista, com o ser humano envolvido no contexto, numa visão dialética sobre desenvolvimento e aprendizagem.

Falou, a seguir, em "teoria relacional" , segundo ela um grande marco na história aprendizagem, pois põe balizas ao que até então era tido como definitivo no campo das motivações humanas. E esse fato tem incidências no campo da educação e especialmente no ensino da língua materna, pois até agora pouco tem sido feito para libertar o ensino de línguas da espiral behaviorista que procura partir dos influxos exteriores, o que não tem nenhum valor e nem pode alcançar as motivações intrínsecas que se sedimentaram em cada uma das personalidades dos educandos. Essa teoria aponta para algo ainda mais sério: o processo de formação das motivações dos próprios educadores, pois este influenciará de forma direta suas práticas e, conseqüentemente, as relações estabelecidas com os educandos (o que pode trazer resultados positivos ou negativos, dependendo de variáveis como equilíbrio do professor, ambiente, disponibilidade material, etc).

Também discorreu sobre a "teoria dos sistemas dinâmicos", que consiste numa abordagem que recorre a multidisciplinaridade para fundamentar seus pressupostos. O comportamento humano não obedece a uma progressão linear, ou seja, as variações comportamentais em função do tempo não se dão seguindo uma linha determinada e não maleável. Aqueles que estudam a teoria dos sistemas dinâmicos estão particularmente interessados em saber como um sistema varia ao longo do tempo, passando de um estado estável para outro, devido ao efeito de uma variável específica.

Falou em "teoria ator-rede", que se compreendi bem, seria algo como um estudo para designar um tipo de investigação que visa o mapeamento de situações de um social que não é anterior nas relações entre os atores, mas definido como algo em constante modificação, resultado de entidades surpreendentes, fato que vem quebrar as certezas sobre a composição do mundo em que vivemos. Em um mundo em constante mudança, outros métodos de investigação são necessários para que possam dar conta de campos ainda não explorados, de exigências que se tornam urgentes. Lembro que ela falou em mediação.

Citou Vygotsky para falar na posição ativista transformadora, ou modo expandido; em ponto central da coletividade; em ponto central da transformação; a postura transformadora é uma nova abordagem e metodologia que ajudam a fechar lacunas tradicionais, incluindo teoria versus prática e objetividade versus ética.

Foi concluindo, falando da educação não vista como uma ação no presente, mas como uma ação no futuro.

Terminou citando Vygotsky: "as pessoas precisam compreender as verdades da sociedade, antes que possam compreender suas próprias verdades."

Certamente alguma coisa pode ter ficado confusa neste relato, pois quem conta um conto aumenta um ponto. Mas espero que seja importante para buscarmos mais, pesquisarmos mais essa perspectiva pedagógica.

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