quarta-feira, 2 de junho de 2010

Preconceito e razão

Li no sítio do jornal A Capa desta semana, que a torcida do São Paulo publicara um manifesto na internet, ofendendo o jogador Richarlyson, depois que circulou a notícia que o jogador havia sido visto numa boate gay paulistana. O texto que havia sido publicado pela torcida começava assim: "Não é de hoje que esse traste suja a imagem sagrada do São Paulo Futebol Clube com seu jeito afeminado. Dentro de campo, sequer justifica isso com um futebol decente. O fato é que Richarlyson é o antimarketing do clube, isso pode afetar inclusive o crescimento da torcida são-paulina. “ Após a repercussão do caso, a direção retirou a notícia do ar e se contradisse, afirmando que a torcida organizada são-paulina não era preconceituosa, só estava querendo cobrar do Richarlyson uma postura mais efetiva em campo, já que não estava mostrando bom jogo.
Ora, o que se viu acima é uma atitude preconceituosa, sim. As pessoas têm medo de conviver com a diferença, ainda mais quando essa diferença possa envolver a sexualidade de alguém.
Richarlyson nunca afirmou publicamente que fosse homossexual, pelo contrário. Bobo ele se, sendo, o dissesse. Com uma imprensa de quinta categoria, como a nossa, imagina o estrago que o craque faria em sua carreira, num esporte eminentemente machista.
Por que será que somos preconceituosos? Já notaram pessoas que contam piadas sobre viados justificando-se imediatamente, dizendo que não têm preconceito, que é apenas uma brincadeira? Com negros também se faz isso. Com índios (“fazer uma indiada”), com loiras, etc. O interessante nisso tudo é que quando a diferença é bi volt, o fato se abranda um pouquinho: o homossexual afetado é visto com o mesmo sarcasmo que o homossexual com comportamento semelhante ao heterossexual. A diferença é que o afetado, muitas vezes, acaba compactuando a visão machista da maioria heterossexual, submetendo-se ao preconceituoso.
Mas as coisas, parece, estão mudando. Por exemplo, minha visão da homossexualidade anda em crise. Já não ando mais acreditando em uma só homossexualidade, há homossexualidades. Existem os afetados porque se sentem bem assim, tanto quanto os gueis normais (com comportamento social hétero). A visão de bissexualidade está adquirindo um status de aceitação maior, visto que há tempos atrás, o bissexual era visto como o homossexual que não se assumia (ainda que os não-assumidos existam em número relevante).
Bem, conviver com a diferença, não é fácil. Envolve receio, medo, insegurança, inveja, um monte de coisas. É muito bom que os diferentes se mostrem, mesmo os que sejam héteros como Richarlyson se diz ser. Caetano Veloso escandalizou nas décadas de 60 e 70 e não é homossexual. Eu, que tenho minha homofobia presente, devido à educação, aos meus receios e inseguranças, procuro fazer o exercício de enxergar a diferença como normal e necessária, pois isso é saudável. Parabéns a Richarlyson por ser do jeito que gosta, porque se sente bem assim.
Para quem se interessa sobre o tema homossexualidade, tem um livrinho interessante que pode ser encontrado em sebos: O que é homossexualidade, de Peter Fry e Edward Macrae. Coleção Primeiros Passos, Ed. Brasiliense.

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