domingo, 18 de dezembro de 2016

12. Fausto

O motivo condutor do drama trágico Fausto  é a aposta, feita em dois planos: no plano terreno, Fausto aposta com o demônio (Mefistófeles) que, se este lhe desse a felicidade plena, entregaria sua alma ao inferno. No plano espiritual, a aposta se dá entre Deus e o Diabo, para tentar salvar a alma de Fausto da danação. No final, Fausto perde para o demônio, que leva seu corpo para baixo da terra, mas Deus salva sua alma e o leva ao céu. A primeira parte do Fausto foi composta ainda sob a influência do Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto) alemão, onde a subjetividade e o sentimentalismo estavam em alta no Romantismo, de forma generalizada.

O Fausto de Goethe encontrava-se angustiado e isolado da sociedade em uma solidão voluntária, sentindo-se incapaz de transformar o mundo. Um dia, durante um passeio, é seguido por um cão negro que ele deixa entrar em sua casa. Mefisto havia se metamorfoseado nesse cão para tentar Fausto a aventurar-se pelo mundo dos prazeres terrenos, para curar sua crise existencial.  Mefisto propõe-lhe uma aposta:  Se a inquietação de Fausto, se a sua eterna aspiração aplacar-se algum dia e ele entregar-se a um leito de lazer, à indolência e à fruição hedonista, se vivenciar um momento de felicidade em que possa exclamar: "Oh, pára!, és tão formoso!", então Mefisto terá ganho a aposta.

Fausto aceita e Mefistófeles leva-o a interagir no mundo com todas as sua grandezas (e misérias: os pecados). Fausto passa a frequentar a vida boêmia e a beber, mas isso não o satisfaz. Mefisto lhe oferece a possibilidade do amor carnal na figura da jovem Margarida, Gretchen, moça simples. Mas ele se toma de amores por ela. Mefisto o distancia de Gretchen, que estava grávida de Fausto e tem um final trágico, pois foi tratada como prostituta por ter um filho solteira. Gretchen, num gesto de desespero, mata o filho, é presa e condenada à morte. Fausto vem a saber da morte da amada e do filho através do irmão da moça, com quem duela e o mata.
A segunda parte, o Fausto II, terminado mais de 20 anos depois, é de leitura bem mais extensa, e difícil, são mais de 1000 páginas, onde Mefisto leva Fausto a vivenciar toda a história da humanidade, partindo dos mitos gregos: Fausto contracena com Helena de Troia, com os filósofos gregos e demais figuras históricas. No final ele sucumbe, e morre, entregando sua alma ao demônio. As forças divinas, entretanto, interferem em seu destino, Mefisto é logrado e Fausto ganha o reino dos céus.

Historicamente, existiu na Alemanha, mais ou menos no final da Idade Média, um Doutor Fausto, médico, também mago e alquimista. Era considerado figura esquisita, vivia só na companhia de um cão preto. Como começava a enriquecer, criou-se a lenda de que havia feito um pacto com o demônio, em troca da felicidade material. E esse demônio estava transformado no seu cão preto.  Essa lenda passou à forma escrita, publicada em almanaques e foi traduzida para o inglês. O dramaturgo Marlowe, da geração de Shakespeare, interessou-se pelo tema e criou uma peça de teatro, "A trágica história do Doutor Fausto", publicada mais ou menos em 1592. Goethe (1749/1832), quando criança, adorava teatro de marionetes e assistiu à adaptação da peça de Marlowe e ficou impressionado com o tema. Em 1808 publicou sua obra monumental: Fausto I. Em 1832, quando morreu, veio a lume a segunda parte da tragédia: Fausto II.

Há uma edição bilíngue confiável e muito bem reputada da renomada tradutora Jenny Klabin Segall (esposa do pintor Lasar Segall), que dedicou boa parte de sua vida a traduzir os dois volumes de Fausto, pela Editora 34. Os dois volumes são em versos, buscando respeitar a edição original alemã, enriquecida com a apresentação, comentários e notas de Marcus Vinicius Mazzari. Fausto I tem ilustrações de Eugène Delacroix e Fausto II, de Max Beckmann.


Existem traduções em prosa do Fausto, mas é preciso ter cuidado com a procedência e qualidade dessas traduções. Eu sugiro ao leitor que opte pelo Fausto I da Editora 34, que não apresenta grandes dificuldade na leitura. Acho que o leitor não se arrependerá. Afinal, não dá para morrer sem ler o Fausto de Goethe, também. O preço dos dois volumes da Editora 34 giram em torno de 63 e 80 reais, respectivamente. 

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