domingo, 18 de dezembro de 2016

8. As viagens de Gulliver

As viagens de Gulliver, do escritor dublinense Jonathan Swift (1667/1745)  é bastante conhecido através de inúmeras adaptações para o público infanto-juvenil. Entretanto, a obra é originalmente  para gente grande. Aliás, Swift não gostava de crianças, ainda que tenha se afeiçoado a uma sobrinha adolescente, de quem foi preceptor durante muito tempo. Era um misantropo. Talvez pelo fato de que era um crítico ferrenho ao comportamento hipócrita de seu tempo. Desacreditava no ser humano, por tudo de errado que faziam, segundo seu ponto de vista. Odiava a traição dos políticos, a falsidade da corte e do comportamento de certa parte do clero, que se voltava a favorecer os interesses dos nobres, descuidando-se dos pobres. Swift, entretanto, não era um homem "de esquerda", pois mantinha a hierarquia entre ele e seus criados.

Na primeira viagem, Gulliver sofre um naufrágio e aporta desacordado na ilha de Lilliput, no Oceano Índico,  país de gente minúscula (10 cm de altura). Portanto, é um gigante que inicialmente amedronta o reino. Quando acorda, está amarrado ao chão úmido da praia. Aos poucos, os habitantes do lugar vão se aproximando e fazendo contato, e ele acaba sendo solto. Devido a sua brandura, o Imperador ordena eruditos para lhe ensinar a língua local. Gulliver se oferece para servir o imperador em suas guerras contra o reino da ilha vizinha de Blefuscu. O navegante impede a invasão a Lilliput. Um dia, os aposentos da Imperatriz se incendeiam acidentalmente e o navegante se oferece para salvar o resto do palácio. Como a quantidade de água que lhe ofereciam era muito pouca, pois tudo era minúsculo no reino, Gulliver decide apagar o incêndio, urinando sobre as chamas. O fogo é apagado, mas a ira da imperatriz contra ele está criada. Pouco tempo depois, é informado pelos habitantes de Blefuscu de que há um plano para acusá-lo de alta traição. 

Depois de algumas dificuldades, Gulliver consegue retornar à terra natal. Lilliput e Blefuscu são sátiras da Inglaterra e França, com a simpatia de Swift pela França, que agiu corretamente com seu personagem na história, provando o quanto o autor antipatizava com seu país natal.
Na segunda viagem, Gulliver sente na pele o que os liliputianos sentiram em relação a ele. Depois de naufragar, ele chega a Brobdingnag,  terra dos gigantes, sendo recolhido por um lavrador que o expõe nos mercados e praças públicas. A rainha interessa-se pela minúscula figura e o compra. Gulliver passa a ser uma espécie de bobo da corte às avessas, pois mantém longos colóquios com a nobreza. Gulliver constata a ignorância do rei em matéria de política e também em navegação, e passa a ensinar-lhe muitas coisas. Um dia o marujo pede à rainha que o deixe ver o mar. Um pajem o leva a um penhasco juntamente com sua pequena casa. O pajem se descuida e um vento faz a casa descer até o mar e Gulliver consegue, assim retornar à Inglaterra. Brobdingnag encontra-se geograficamente, no Oceano Pacífico, junto à América do Norte.

Na terceira viagem, é atacado e preso por piratas holandeses, descendo em Laputa, uma ilha que voa. Lá, Gulliver entra em contato com a filosofia e astronomia modernas. Depois chega a Balnibarbi, próximo ao Japão. Lá, mantém conversa com um senhor que havia sido ministro da corte e fora afastado por fazer críticas à falta de lisura do governo em seu ato de governar. Swift satiriza, aí, o saber, ao visitar a Academia, fonte de educação do Império que nada mais é, que a Inglaterra.  Depois de aportar em mais alguns lugares e chegar ao Japão, retorna à Inglaterra mais uma vez.

Na quarta e última viagem, Gulliver chega ao País dos Houyhnhnn, governado por cavalos, seres inteligentes e nobres. Lá, havia os yahoos,  seres embrutecidos e sem cultura, praticamente irracionais. Nessa parte, Swift mostra sua descrença no ser humano, desdenhando não só os costumes da Inglaterra, como também de toda a sociedade humana, num pessimismo absoluto.


A tradução que li é de uma edição da antiga Editora Globo, de 1961, feita pelo conceituado tradutor português Octavio Mendes Cajado. Atualmente a Penguin Cia. das Letras, lançou a obra com a tradução a cargo de Paulo Henriques Britto,um dos melhores tradutores brasileiros.

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