domingo, 18 de dezembro de 2016

17. Os irmãos Karamázov

Os Irmãos Karamázov  conta a história de uma família e uma comunidade, e não propriamente de um indivíduo. Ele alterna as histórias de suas cinco figuras principais em partes sucessivas, às vezes com uma sobreposição de tempo de uma para outra, criando suspense sem a necessidade de uma intriga. Assim, todas as personagens estão conectadas com as vastas forças culturais e históricas e os conflitos morais e espirituais da época, 1870.
O autor aborda nesta obra-prima, a questão da falência da família russa, que sofria a perda da fé em Cristo e em Deus. Assim, o conflito entre fé e razão é colocado como ponto central do romance, apreendido em seu plano moral e filosófico mais altos.

O fazendeiro Fiódor Pávlovitch Karamázov negligencia totalmente os três filhos tidos de duas esposas. Dimitri, o filho mais velho que teve com a primeira esposa, herdou da mãe o temperamento forte. Sua expectativa, desde jovem, era herdar da mãe algum dinheiro, quando tivesse a idade para isso. O pai, porém, tinha enredado de tal modo os bens de Dimitri, que ele ficara sem nada.Ivan, o filho do meio, era de natureza reservada, introspectiva e era preocupado com as injustiças do mundo. Aliocha, de 20 anos, o terceiro filho, tinha índole religiosa, nutria um amor precoce ao ser humano. Para que sua alma pudesse se ver livre das trevas da maldade, refugiou-se num mosteiro como uma saída de sua alma para a luz. Smerdiákov, o pretenso filho bastardo, foi assistido pelo criado da casa de Fiódor, passando a tarefas domésticas.É descrito como uma pessoa mediana e sádica, destituída de qualquer sentimento natural de gratidão ou obrigação para com os outros. Desde pequeno zombava da religião. Racionalista, tinha diálogos primorosos com Ivan, torturado com seus raciocínios morais. Smerdiákov adquire importância maior, durante o julgamento de Dimitri.

O fio condutor da trama é sobre o ódio de Dimitri (já integrado ao exército russo) ao pai, quando se sentiu espoliado da herança a que tinha direito. Como tinha pavio curto e o  cérebro na ponta da língua, metia-se em constantes confusões, chegando a afirmar, perante pessoas, que se vingaria do pai. Tinha uma noiva, Cátia, mas era apaixonado por Grúchenka, uma jovem liberal sustentada por um homem mais velho. Dimitri a amava, mas vivia com suas rendas quase a zero. Embora Grúchenka tivesse recursos, Dimitri era orgulhoso, queria levá-la por conta própria e começar com ela uma nova vida. Ele tinha outro problema de consciência: havia se apossado do dinheiro da namorada Cátia, que o havia dado a ele para enviar a um parente necessitado.

O conflito se agrava, quando Fiódor decide entrar na briga para conquistar Grúchenka. Esse é o ponto central da narrativa, que leva a uma tragédia familiar, envolvendo os demais irmãos.  Há um roubo de dinheiro na casa de Fiódor e este é assassinado. As suspeitas, obviamente, recaem sobre Dimitri, que afirma ser inocente, mas é levado a julgamento.
Os dois longos capítulos em que a promotoria e a defesa traçam sua estratégia de condenação e absolvição de Dimitri é outro ponto alto no romance. Contêm  os extensos discursos dos advogados. 
Dostoiévski se utiliza deles para dar o clima adequado à ação da trama. Os dois advogados iluminam os problemas morais,  espirituais, sociais e políticos que envolvem a família Karamázov.

Todo o romance é um primor de construção narrativa. Último romance de Dostoiévski, em sua fase áurea de obras-primas, é considerado a obra síntese do autor russo.

Tradução de Paulo Bezerra.
                     paulinhopoa2003@hotmail.com
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Fiódor Dostoiévski. Os irmãos Karamázov.SP, Editora 34, 2008, 1080 pp. em dois volumes. 

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