domingo, 18 de dezembro de 2016

13. O vermelho e o negro

Na cidade de Verrières há uma fábrica barulhenta que produz por dia milhares de pregos. Mais adiante, próximo à prefeitura, há  uma casa de aspecto muito bonito e, através de uma grade de ferro contígua à casa, seus jardins magníficos. Ao fundo surgem as colinas de Borgonha, formando uma linha de horizonte que parece feita expressamente para o prazer dos olhos. A fábrica e a casa magnífica pertencem ao sr. de Rênal, um homem que se fez na vida cobrando pontualmente o que lhe devem e pagando o mais tarde possível o que deve aos outros. Foi com o dinheiro da fábrica que o sr. de Rênal construiu sua mansão. Envergonhado de ser um industrial vivendo do comércio de ferro, em 1815 decide ser o prefeito da cidade.

Essa cena inicial de O vermelho e o negro serve como ilustração da classe média francesa enriquecida fora da nobreza, ilustrando o período liberal da política francesa, após a queda de Napoleão. Essa evolução dos costumes, entretanto, não excluiu o sistema de castas que imperava na França desde sempre. É nessa sociedade em transformação, com toda sua hipocrisia dos costumes que vai atuar o herói do romance de Stendhal (1783/1842), Julien Sorel.
Julien era um jovem ambicioso, filho de um serralheiro que havia vendido muitas terras a preço de banana ao sr. de Rênal. Por ser filho de serralheiro, o caminho que lhe restava para seguir na vida era o de estudar para padre e ganhar a vida como preceptor de filhos endinheirados da sociedade local. O pai de Sorel era um sovina, cobrava do filho o que gastara durante seu sustento e acabou forçando-o sair de casa para seguir os estudos no seminário.

Pois bem, Sorel acaba contratado para ensinar aos filhos do prefeito o latim. A sra. de Rênal, mulher culta e discreta, acaba se envolvendo com o  jovem e os dois tornam-se amantes.
Uma carta anônima ameaça comprometer Julien e a sra. de Rênal. Um cônego seu protetor o aconselha a ir a Paris, para trabalhar como preceptor da família de La Mole, gente endinheirada que frequentava a corte parisiense. Sorel acaba sabendo que não há fortuna para um homem de sua condição, exceto por intermédio da nobreza. Ajudado pelo sr. de La Mole, que simpatiza com ele, passa a se vestir como um dândi e a dominar a arte de viver em Paris.
Não demora muito para Sorel e a srta. de La Mole se apaixonarem. Ter um amante de classe inferiorizada era coisa corriqueira para as mulheres da corte, desde que se mantivessem em sigilo aparente. O problema para Julian residiu no fato de tanto a sra. de Rênal quanto a senhorita de La Mole apaixonaram-se verdadeiramente por ele, enquanto ele era de caráter delicado, um romântico inveterado que ama com o coração mas não mede a realidade que cerca essa paixão.

Um dia, a senhora de Rênal aparece em Paris e põe a relação de Julien com a senhorita de La Mole em risco. Julien, num gesto impulsivo, tenta matar a senhora de Rênal em uma igreja e é preso. O final do romance é patético.

A Cosac Naify tem uma edição bem cuidada do romance, com tradução de Raquel Prado. Mas há outras traduções competentes sugeridas pela Cosac, como a de José Geraldo Vieira, pela Difel, e de Paulo Neves pela LPM (R$ 39,90). A edição nova da Cosac sai entre 54 e 89 reais.
                          paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Stendhal. O vermelho e o negro. SP, Cosac, 2010, 576 pp. 

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