domingo, 18 de dezembro de 2016

21. Anna Kariênina

Entre os muitos dilemas abordados na literatura, especialmente a realista, um deles é a escolha que algumas mulheres fazem e que acabam  destruindo suas vidas. Vou citar dois casos, aparentemente antagônicos e trágicos: a de Flora, em Esaú e Jacó, de Machado, e a de Anna kariênina, de Tolstói. No romance do genial Machado de Assis, Flora é uma jovem cortejada por dois irmãos gêmeos diametralmente opostos:  Pedro é monarquista conservador e Paulo é liberal republicano. O problema para Flora, é que os dois são tão idênticos fisicamente, que ela não consegue distingui-los e, por isso mesmo, não consegue escolher, já que ama os dois ao mesmo tempo. A tarefa da escolha é tão atormentadora, que ela enlouquece e morre.  No romance de Tolstói, Anna é uma mulher casada que leva uma vida conjugal tediosa com o marido, mas que preza o luxo dos salões de Moscou e São Petersburgo. Num desses encontros, Anna Kariênina corresponde ao amor de Vronsky, jovem militar,  e faz a escolha de juntar-se ao amante, sem levar em conta as consequências que essa atitude poderá trazer em sua vida, numa sociedade em que a mulher era subserviente ao marido e onde o divórcio era visto com ressalvas. Um dos problemas de Anna, é que ela quer viver o idílio, sem separar-se legalmente o marido, para não perder o contato com o filho. Isso desgosta Vronsky, que quer o divórcio da amante para formar uma nova família e dar segurança a ela e ao filho nascido desse relacionamento. 
O isolamento deles, motivado mais por Anna, acaba causando uma fissura na relação dos dois, pois Vronsky quer assumir a mulher e tornar sua relação legítima e Anna despreza, aparentemente, as relações sociais, ao mesmo tempo em que sente falta desse convívio, já que é fútil, vazia e imatura emocionalmente. Seu ciúme doentio acaba minando a relação, até o momento em que ela, numa espécie de surto paranoide, passa a pensar que o amante já não a ama mais, depois que ele se afasta devido a uma forte discussão.   Há uma série de desencontros e Anna toma uma atitude trágica.
Tolstói constrói  Anna Kariênina, com  descrições sublimes, tão  próximas e tão distantes, com intensa força dramática e beleza literária. O autor construiu uma das mais emblemáticas  personagens da literatura mundial, uma mulher que combina doçura e uma capacidade inesgotável de amar , até às últimas consequências.

As questões sociais, que sempre preocuparam o autor russo, marcam presença no romance através de Liévin, que faz um papel mediático entre os camponeses e a alta sociedade. Liévin, apesar de ser alto proprietário, é preocupado com questões sociais camponesas, como, por exemplo, a criação de escolas agrárias. Liévin é um personagem que, a princípio, demonstra-se como bruto, mas que, ao chegar à própria casa, revela-se um verdadeiro filósofo e pesquisador, engajado em amplos problemas lógicos, e até mesmo estava escrevendo um livro sobre a agricultura na Rússia. Liévin é o alter ego de Tolstói.

Tradução de Rubens Figueiredo
                                            paulinhopoa2003@yahoo.com.br
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Liev Tolstói. Anna Kariênina. SP, Cosac Naify. 2005, 816 pp

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