domingo, 18 de dezembro de 2016

26. O retrato de Dorian Gray

 Basil Hallward, pintor de quadros, apaixona-se pela beleza do jovem Dorian Gray, um dândi da sociedade londrina, vivendo das rendas de sua família rica. Quis, então, compor um quadro do jovem que representasse o máximo às suas pretensões de artista.  A beleza  de Dorian Gray era tanta que talvez a arte não fosse capaz de expressá-la.  O artista, assim, pensou uma forma completamente diferente de arte, um estilo inteiramente novo.  O quadro a ser pintado teria de harmonizar a alma e o corpo, inaugurando, quem sabe, uma nova escola contendo toda a paixão do espírito romântico e toda a perfeição do espírito grego. Entretanto, Basil sentia uma insegurança no comportamento de Dorian Gray, como alguém que só existia para agradar a sua vaidade. Mesmo assim, fez o retrato.

Dorian, entretanto, tinha ciúmes do retrato que Basil pintara dele, porque tinha ciúmes de qualquer coisa cuja beleza não morre. Na vida, o tempo tira  a todo o instante  algo dele e dá ao quadro. Se o quadro pudesse mudar, se a pessoa de Dorian pudesse ser belo e jovem pela vida toda e o quadro mostrasse seus sinais de decadência, seria a perfeição.

O jovem era apaixonado por uma atriz de teatro, filha de outra atriz. Portanto, oriunda de uma família pobre. Henry, seu amigo e mentor,  incentiva-o a largar a atriz, que não estaria à altura de sua beleza. Dorian, entretanto, busca provar que essa atriz era a mais maravilhosa das criaturas, convidando Henry e Basil para assistir ao espetáculo Romeu e Julieta, protagonizado por ela. O que se vê no palco, entretanto, é um desastre. Ela representa quase tudo de forma desastrada, para frustração de Dorian. Ao visitá-la no camarim, após o fim do espetáculo, ela lhe diz que sabe que representou mal, porque a arte não a satisfaz mais do que o amor que ela sente por Dorian. Ela se dispõe a abandonar a arte da representação em prol do amor por ele. Isso marca o fim da relação dos dois. Dorian a rejeita. A paixão dele não era pela pessoa da atriz, mas pela função que ela teria, de representar a arte.

Dorian era imaturo. Acreditava que somente pessoas superficiais precisam de anos para se livrar de uma emoção. Um homem que é senhor de si mesmo pode fazer cessar uma tristeza com a mesma facilidade com que inventa um prazer. Não quer estar à mercê das emoções, mas usá-las, aproveitá-las e dominá-las.

Após abandonar a atriz, passa a ter uma vida desregrada e imoral. Para ele, os modos passam a ser mais importante que a moral. Muitos da sociedade fugiam dele. Só o toleravam nas rodas sociais por causa do seu dinheiro. Assim, começa a haver a decadência de uma beleza que fora, um dia, aparentemente tão notável. Passou a sentir-se entristecido pelo reflexo que a ruína causava nas coisas belas e maravilhosas.
Dorian passou a odiar Basil, acusando-o de incentivá-lo a se gabar de sua boa aparência. Apresentou-o a Henry que lhe explicou as maravilhas da juventude, e finalizara um quadro que lhe revelava a maravilha da beleza. 

Agora, o quadro, completamente transformado pela passagem do tempo, representava um sátiro. O quadro, a feiura de uma imagem que tornava as coisas reais. Em O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde levanta o tapete que cobre a superfície da beleza, revelando a sujeira das conveniências
Oscar Wilde (1854/1900) nasceu em Dublin, passando a residir em Londres, era cultor da Arte pela Arte. O escritor posicionava-se contra a mentira na arte, afetando a criatividade do artista. Para que o artista pudesse atingir a máxima liberdade na criação artística, era preciso que essa criação não fosse imitativa, buscando um distanciamento  da realidade como meio de atingir a verdadeira arte e a beleza poética.

Wilde teve uma vida irreverente, recheada de escândalos, devido a sua fama de escritor e dramaturgo. Era homossexual, apesar de casado e pai de dois filhos. Envolveu-se numa relação tempestuosa com Afred Douglas. Apesar da homossexualidade ser crime na Inglaterra, a importância do escritor nos meios burgueses e sua privilegiada condição social o livravam de problemas com a polícia. Quando move uma ação contra o pai de Douglas, o marquês de Queensberry, por difamação e calúnia, perde a ação e é condenado e preso por dois anos.  Ao sair da prisão conta com a ajuda da pensão da esposa para viver, mas isso lhe é cortado, quando Wilde continua vivendo uma vida promíscua, bebendo em demasia. Morre em estado de mendigo.

Tradução de Paulo Schiller
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Oscar Wilde. O retrato de Dorian Gray. SP, Penguin/Companhia, 2012, 164 pp.

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