domingo, 18 de dezembro de 2016

28. A Metamorfose

Gregor Samsa era caixeiro viajante. Escolhera uma profissão cansativa, devido às viagens frequentes que fazia, com a troca de trens, as refeições irregulares e ruins, um convívio social sem calor humano. Acordar sempre cedo, sem ter o justo sono. O chefe sempre tratando-o de cima para baixo, que além do mais tinha de se aproximar para responder-lhe, pois seu chefe era surdo. Mas Gregor Samsa tinha a esperança de juntar o dinheiro para pagar a dívida de seus pais e fazer a ruptura com aquele tipo de trabalho que o aborrecia em demasia. A preocupação dele era fazer tudo para a família esquecer o mais rapidamente possível a desgraça comercial que havia levado todos a um estado de completa desesperança. Assim, começara a trabalhar com um fogo muito especial e, quase da noite para o dia, passara de pequeno caixeiro a caixeiro viajante, que naturalmente tinha possibilidades bem diversas de ganhar dinheiro. Passou a ganhar tanto dinheiro que passou a assumir as despesas dos pais e da irmã.

A narrativa inicia-se com a transformação:“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos.”

A partir desse acontecimento insólito, a vida de Gregor sofre uma reviravolta. A metamorfose sofrida altera sua relação com o chefe e com cada membro da família.

A metamorfose, escrita em 1912,  é a mais  célebre novela de Kafka (1883/1924), escritor tcheco que escrevia em alemão. Já foi dito antes que a metamorfose de Gegor Samsa é um evento inverossímil. Para o leitor, pode ser que sim.  No entanto, para a família, o evento não é inverossímil, não é um elemento que provoque pavor, a não ser a surpresa inicial ao vê-lo pela primeira vez. É uma presença que perturba, uma presença incômoda, mas é algo assim como se de repente alguém encontrasse um animal feroz em sua residência. Não vai além disso. Não ameaça a ordenação do mundo no qual surge. 

Tradução direta do alemão de Modesto Carone, especialista em Kafka.
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Franz Kafka. A metamorfose. SP, Cia. das Letras, 1997. 102 pp. 

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